sábado, novembro 29, 2003

Mr. Madonna

O Rui acha que eu não gosto do Sean Penn por este ser de esquerda. Caro Rui, em primeiro lugar, desconheço se o homem é de esquerda ou não. Das actividades ‘políticas’ do sr. Penn, o único facto que me chegou foi uma ida ao Iraque, infelizmente antes da guerra, para visitar criancinhas tristes graças a Bush. Tecnicamente, a isto chama-se fazer figura de urso, exercício que não é exclusivo da esquerda.
Eu não gosto do moço como não gosto, regra geral, de actores do ‘método’ - aqueles rapazes com muitas caretas e sofrimento interior, que se dilaceram todos em cena ainda que interpretem o papel de um contabilista. Do género, suporto o Montgomery Clift, de vez em quando o Dustin Hoffman, e o de Niro no «Mean Streets». E é só. Os meus filmes e actores são outros, e, no cinema e restantes artes, podes ter a certeza de que a ideologia não entra nas contas. A esquerda, essa, é que em nome da ‘coerência’ talvez ouça o Fausto. Não o de Gounod: o Fausto, Deus meu!

sexta-feira, novembro 28, 2003

Resposta ao JMF

Porque, meu caro, parece que os grupos islâmicos e os movimentos ‘anti-globalização’, (hoje, de resto, muito íntimos e parece que próximos da esquerda) estão por detrás do anti-sionismo em causa. Pelo menos, parece que é o que diz o tal relatório. Mas se calhar parece mal lembrar coisas assim.

A revisão constitucional do mês

Na matéria em causa, o dr. Sampaio tem alguma razão. Não toda, o que seria de estranhar. Portugal não tem uma Constituição, Constituição têm os EUA. Nós possuímos um palavroso caderno de encargos, acrescentado ou rasurado de acordo com a época ou os governos ou os consensos parlamentares. Uma Constituição é um conjunto de princípios fundadores, genéricos e, na medida do possível, imutáveis. Em estados democráticos, deve ser defendida com galhardia. Sucede que a nossa já foi mais violada e esventrada que as ocasionais parceiras de Jack, the Ripper. Também, da forma como foi concebida, é para isso que ela presta. Ao defendê-la, defendemos o quê? O dr. Sampaio elogia a fachada do prédio depois do interior ter sido arrasado? Trata-se de um gesto empolgante, que cai bem nas massas. Infelizmente, é também absurdo: o que nasce esquerdo, nem tarde se endireita - ainda que não se morra por tentar. É irrelevante, é como - ai, ai - o País.

Grande, bravo e vermelho rio místico

Parece que meia blogosfera já falou de «Mystic River». Peço então licença para humildemente acrescentar:
1) Gostei muito do filme;
2) Não chega aos pés das obras-primas de Eastwood («A Perfect World»,«Honkytonk Man», «Bridges of Madison County»);
3) É, não obstante, incomparavelmente melhor do que 99,99 das porcarias que andam aí;
4) O Sean Penn, embora ameace, não envergonha como de costume;
5) Bem mais consistentes são, é claro, o Kevin Bacon e a Marcia Gay Harden;
6) Ao contrário do João, e dado que a moral é indissociável das fitas de C.E., não julgo que «Mystic River» seja ‘um filme injusto’. De algum modo trágico (como em «Um Mundo Perfeito»), ou magoado («As Pontes...»), a harmonia é restituída no final.
7) Não é, acho eu, o ‘filme do ano’. O filme do ano, falta saber de qual, há-de ser «Lost in Translation», da Sofia Coppola. É cá uma fezada, enriquecida pelas imagens, já vistas e devoradas, do Bill Murray (discutivelmente o maior actor vivo) a fazer karaoke de «More Than This» - um momento de desolação como poucos na história do cinema recente.

quarta-feira, novembro 26, 2003

(Obrigado ao Aviz)

Sempre quero ver como é que a esquerda vai explicar isto. Não sei, acho a argumentação irracional uma ternura.

Sempre atrasados

Vi aqui, que viu aqui, que viu aqui, que o tal Causa Nossa abriu enfim. Para começo de conversa, e retirada a palha, ficamos a saber que o Vicente Jorge Silva tem uma relação amorosa com uma máquina de escrever; que Vital Moreira acha ‘Morte em Veneza’ um filme ‘pungente’; que um Luís Nazaré se recusa «a obedecer ao crivo da opinião instantânea e da sua nata tablóide de pendor popular, erudito ou transformista» [o sr. Castelo-Branco ou lá o que é pode tirar o cavalinho da chuva, portanto]; e que a lendária dra. Ana Gomes considera os seus companheiros de blogue «um grupo de pessoas diferentes, interessantes e desalinhadas, por muito que se/as [sic] procurem alinhar».
Depois do desaparecimento do João Hugo Faria, sentia-se a falta de um blogue assim. Não fora o espaço ter sido justamente preenchido com o dr. Carrilho e o Causa Nossa mereceria um grande Bem-vindo.

Morada aberta

Aqui há uns dias, feito engraçadinho, utilizei a expressão ‘fist-fucking’ num post. Como resultado, passei a receber uma série de visitantes internacionais, decerto à procura de um frenesim que este plácido blogue não consegue proporcionar. No Google francês, a pesquisa do termo coloca o Homem a Dias em segundo lugar; no Google em português, apraz-me registar a liderança do ranking, aqui, no Brasil ou nos Palop. Fico satisfeito. Agradecia era que encaminhassem as reclamações para os responsáveis pelo Google ou para o raio que vos parta: se o meu ‘fist-fucking’ não vos serve, eu sou o último culpado.

P.S.: E depois destas duas repetições do termo ‘fist-fucking’ - perdão, três -, Deus sabe que horda reforçada de tarados me franqueará as portas. Para visitas indesejadas, já me chegavam o(s) ‘leitor(es)’ oriundo(s) da zona codificada do site do dr. Carrilho (que não torno a lincar por causa das coisas).

terça-feira, novembro 25, 2003

Animal social

Às vezes acho que a minha vida é uma sucessão de pequenas recusas. Hoje cabe-me agradecer o convite da Periférica para o lançamento do número 7, ontem na Fnac, e pedir desculpa por não ter comparecido. Foi bonita a festa, pás?

Poeminha ao 25 de Novembro

E lá murcharam a tua festa, pá
Fiquei contente
Paciência, pá
(Foi indecente).

Sei que há léguas a nos separar
E ainda bem, pá
Nem todo o povo queria estar
Com o MFA

segunda-feira, novembro 24, 2003

Estrangeirados

O outro blogue do meu mês.

Caso arrumado

O blogue do meu mês.

À atenção do PE

Tal como o Francisco José Viegas, também não sei o que pensar do aviso do rabinato de Paris sobre o uso do kippah. Regra geral, quando os judeus começam a esconder-se, é porque não falta quem queira revelá-los. Pelos piores motivos.
Lembro, contudo, um pormenor. Hoje discute-se imenso a inclusão da matriz judaico-cristã numa eventual constituição europeia - uma medida naturalmente polémica e obviamente tonta, como explica o essencial Rua da Judiaria. Coerente seria incluir o anti-semitismo no documento: uma pessoa olha para a Europa ao longo dos séculos e, tirando justamente raras e precárias excepções, dificilmente descobre elemento tão constante da respectiva ‘estrutura’. Por um lado, satisfar-se-ia boa parte da esquerda 'antiglobalização' e da direita 'habitual', evitando polémicas estéreis.
Por outro, salvo a ocasional Holanda, os dois únicos países da História em que a presença significativa de judeus jamais desencadeou perseguições mais ou menos ‘oficiais’ foram (são) os EUA e Israel. Que não são europeus e que constituem, como a Europa sabe, a maior ameaça à paz mundial. Uma constituição a sério não só tem de preservar as raízes da identidade europeia, mas defendê-la contra os perigos que a põem em causa. É complicado? Dá trabalho? Arbeit macht frei, pessoal.

Cabeças no ar

Concordo: fica-nos muito bem a preocupação com as vítimas da Al-Qaeda em Istambul. Mas, quase uma semana decorrida, ninguém se lembra de inquirir sobre o estado de saúde do tal dirigente da FPF, cuja cabeça serviu à destruição do tecto do balneário francês. Se o tecto acabou naquela desgraça, em que condições estará o crânio do pobre homem? E já agora, quem é ele? A julgar pelas declarações pós-demolição, vários responsáveis sofreram graves danos cerebrais. Foram todos arremessados ao alto? Há vítimas mortais? Nós temos direito à verdade.

sexta-feira, novembro 21, 2003

Turistas acidentais

Sob a égide de Derrida, Coimbra tornou-se ontem a mais recente cidade-asilo, conceito destinado ‘a intelectuais perseguidos por regimes totalitários que não reconhecem a liberdade de criação.’
Questionado sobre a adesão à iniciativa do Parlamento Internacional de Escritores, o conhecido romancista israelita Issac Rosenblum, voluntariamente exilado em Damasco após atribulada fuga de Telavive, mostrou-se satisfeito: «Nunca fui a Coimbra (nem a Espanha, de resto), mas garantiram-me tratar-se de um lugar cuja universidade está permanentemente fechada a cadeado. Os refugiados culturais de todo o mundo sentir-se-ão certamente em casa. Não consigo falar mais, estou muito comovido.»

E agora?

Que eu tivesse notado, quem deu a nova em primeira mão foi o Janela Para o Rio (desactualizado nos links à direita - actualizações em curso, peço desculpa): o dr. Carrilho tem um site. Pronto. Ajustem-se às cadeiras, estiquem as pernas e bebam um copo de água, que eu repito, devagarinho: o dr. Carrilho tem um site.
Precisam de um Lexotan? Compreendo-vos. Também fiquei transtornado quando soube. Doravante, a blogosfera perde boa parte da sua relevância: de que serve correr a net em busca de graças e graçolas, se as realmente hilariantes estão todas no espaço virtual que o dr. Carrilho em boa hora resolveu criar? Verdade que são involuntárias, mas isso não é argumento. Facto, facto é que são excelentes. E muitas. E de uma sofisticação só comparável à simplicidade de raciocínio do moço.
Querem exemplos? Não puxem por mim. Logo a abrir, esbarramos com uma pérola ao calhas, espécie de epígrafe em que Carrilho cita Carrilho. A que me apareceu hoje é genialmente confessional:
«Parece sempre que está tudo dito e, no entanto, é raro que se toque sequer no essencial.»
Ontem a epígrafe era ainda melhor, e incluía três vezes a palavra ‘tempo’ num curtíssimo parágrafo (infelizmente, não tive tempo para decorá-lo e o desgraçado não se deixa copiar).
Depois, entra-se e dá-se com uma página limpinha, organizada por temas como ‘Destaque’, ‘Editorial’, ‘Crónicas’, etc. Tão limpinha que nem parece albergar, sem favor nenhum, os mais desbragados momentos do humor nacional contemporâneo. Não acreditam? E o que é que ainda estão aqui a fazer? Ide, hereges, e deliciai-vos. A blogosfera terá saudades vossas.

quarta-feira, novembro 19, 2003

Intervalo

Para assinalar o regresso do Socio[B]logue e a estreia do Babugem (que é do Ricardo Gross, que é amigo de um amigo, que é apreciador do Homem a Dias e que tem um óptimo blogue).

C.V.

Anda um tipo a tentar fazer boa figura, escrever uma crónica limpinha, manter um blogue decente, quando de súbito vê-se desmascarado. Talvez a soldo de uma sinistra cabala, o Luciano e o Statler revelaram em simultâneo que eu sou sociólogo, facto cujo oposto sou incapaz de demonstrar. Isto, no caso do Statler, veio a propósito de uma pergunta do Pedro Lomba, sobre se as pessoas frequentam sociologia por serem de esquerda ou ficam de esquerda após frequentar sociologia.
Ora bem, o Pedro Lomba, que eu não conheço pessoalmente, tem sido simpaticíssimo para comigo. Desta vez, porém, ofendeu-me onde mais dói, já que foi justamente a sociologia a deixar-me de direita.
Explico. Quando entrei no curso de sociologia da Universidade do Porto, ainda um adolescente crepuscular, era total e visceralmente apolítico. Não lia jornais, não tinha cartão de eleitor, mal sabia que o prof. Cavaco mandava nisto. A minha passagem tangencial pelo tema resumia-se às digressões do dr. Sá Carneiro, que os mais pais, na década de setenta, seguiam de Norte a Sul, em comícios, almoços e animados serões partidários.
Esquecida essa trágica meninice, no final dos anos oitenta os meus interesses passavam, com larga exclusividade, pela alta poesia e pela baixa vadiagem. Pelo menos no que toca à poesia, as correntes sociológicas agrilhoaram os meus planos. Tratou-se de um processo gradual. Primeiro, havia os professores (esmagadoramente de esquerda); os colegas (maioritariamente de esquerda e quase todos semelhantes ao Tozé Seguro); e as colegas (prioritariamente de esquerda e cujo valor facial era pouco melhor).
Depois havia os conteúdos. Weber era bom, Durkheim engolia-se, Marx tinha estrutura (nos dois sentidos). Mas quando comecei a afocinhar nos Poulantzas, Touraines, Wallersteins e Bourdieus desta vida, percebi que, em nome da higiene mental, tinha de largar as emulações da Emily Dickinson e dedicar-me a descobrir alternativas àquela anedótica miséria.
Um dia, nos sombrios corredores, mão amiga estendeu-me uma tradução parcial do ‘Democracia na América’, que logo em seguida me levou para trás (Burke, Maquiavel) e para a frente (o Kissinger da ‘Diplomacia’, o Allan Bloom da ‘Cultura Inculta’ e a Himmelfarb em geral). Semanas decorridas, percebi que um outro mundo era possível. Quatro anos sacrificiais mais tarde, concluí o curso sem quaisquer ambições poéticas, mas com firme (?) consciência política (?) e o pé a uma distância segura do chinelo esquerdo. O resto não é história.
Agora, meu caro Pedro, exijo públicas desculpas. E envio um grande abraço.

terça-feira, novembro 18, 2003

Sinais de fumo

A Guidinha não sabe de nada: ele há mesmo coincidências. Ontem, o João referiu-se aos Monty Python e eu também. Hoje, o João fala do Dia do Não Fumador e eu já perdi a conta aos cigarros que acendi, numa evocação deliberada das maravilhas que me escapam por não pertencer àquele virtuoso grupo. De resto, o dia está propício a comemorações. Acordo às nove com o café que a minha dadivosa senhora me estende, enxoto as cadelas que entretanto haviam acampado na cama e inauguro a longuíssima série de Camel quotidianos (Gainsbourg contava a história do sujeito cujo cão o ignorara a partir do momento em que ele, o sujeito, deixara de fumar). Chego-me à janela. Faz sol, como eu gosto; faz frio, como eu gosto. À esquerda, as torres da Petrogal indicam ligeiro vento sudeste (a geada islâmica). Em frente, o mar está sereno, propício a surfistas nacionais. Meia hora decorrida, estou no rotineiro posto de gasolina, com jornais, nata, novo café e novo cigarro. Mais meia hora, eis-me no escritório, sujeito à brutal observação dos e-mails, que força um cigarro. Em seguida, telefonemas deprimentes, que não dispensam um cigarro. Depois, nova ida ao café, para leitura aprofundada sobre o doutoramento de Derrida e os malefícios do tabaco. Dois cigarros. Agora, a redacção de um texto (carácter profissional - um cigarro) e deste post (caráter ocioso - outro cigarro). É quase meio dia. Dia do Não Fumador, dos não fumadores. Ainda bem. Que tenham muita saúde. E amigos também.

segunda-feira, novembro 17, 2003

Sentidas loas

Bêbado de entusiasmo com os festins do Dragão, passei o fim de semana num estado que não me permitiu a leitura ponderada de jornais. Donde só hoje li o «Independente»; donde só hoje soube que o Luciano é o novo colunista da casa. Quero assim enviar públicos parabéns. Não ao Luciano, mas ao «Independente», por arregimentar um sujeito que escreve e pensa como muita gente gostaria de escrever e pensar - e não consegue. E agora, o chavão pindérico da semana: a imprensa portuguesa ficou melhor.

Every sperm is sacred

Já anda por aí a edição especial (dois discos) do «Meaning of Life», o pior filme dos Monty Python e uma obra de génio. Tem horas de extras e, caso raro no mercado português, na circunstância os extras são muito mais do que um amontoado de palermices destinadas a consumir a nossa paciência: são uma delícia.

P.S. A despropósito, lanço novo inquérito com a marca de prestígio Homem a Dias. A única coisa que me irrita um bocadinho nos Monty Python é justamente o consenso que parece envolvê-los. Tirando um artigo de Richard Ingrams (o fundador da «Private Eye») na «Oldie», não me lembro de gente respeitável que beliscasse os moços. Há igualmente na blogosfera quem não ache a mínima piada aos MP (não os do parlamento)?

Papão

Ao desancar a rapaziada que insulta o dr. Monteiro à laia de ritual iniciático, o Carlos de Abreu Amorim oferece-me um enorme barrete. De igual modo, também me oferece dois prémios da Revista de Blogues. Eu fico com tudo.

Live, from Amadora-Sintra, it’s VPV!

Dizem que sempre que o Miguel Sousa Tavares se debruça no teclado, Israel treme. A blogosfera também. Infelizmente, nem todos partilham tão temeroso respeito pelo excelso comentador, o ‘portista’ apaixonado, o campeão de todo-o-terreno, o filho de Sophia (cujo ‘ph’ herdará nas partilhas), o nosso Evelyn Waugh com errata, o homem sobre o qual certo dia Harold Bloom nada disse. Infelizmente, ainda há biltres que teimam em reduzir o Miguel àquilo que ele sabe que nós sabemos que ele é. Mesmo de uma cama de hospital. Sou descrente, mas queria que houvesse Deus só para que Ele protegesse biltres assim.

sexta-feira, novembro 14, 2003

Agradeço

à Rata Maluka, que distinguiu o Homem a Dias com um prémio, infelizmente simbólico;

ao Luís Filipe Borges, que me convidou para o lançamento do seu livro, infelizmente em Lisboa;

à Filipa Guimarães e ao Luís Carmelo, pelos aplausos e contribuições.

Sala de espera

Acho que pela primeira vez na minha vida adulta, liguei a televisão de manhã cedo. Depois, deixei-me afundar no sofá da sala. Nos canais portugueses, a obsessão é com os títulos da imprensa. De dez em dez minutos, os apresentadores interrompem os noticiários para exibir as capas dos jornais, ‘destacando’ as mesmas manchetes até à náusea. O exercício não tem propósito aparente, a não ser talvez fomentar o ódio dos espectadores à informação escrita - e, de caminho, à televisiva. Ou então é um serviço prestado às pessoas que não podem sair de casa, logo impedidas de se plantarem em volta dos quiosques, a fitar com deslumbre a frontaria dos diários desportivos (os cavalheiros) ou das revistas ‘sociais’ (as senhoras). Eu faço o mesmo com o «Crime», mas adiante. A única lição que aprendi hoje, graças a um rapaz da NTV que empunhava um diário de economia, foi o facto de a Alemanha estar ‘quase a sair da recepção’. Eu não fazia sequer ideia de que aquele país estava à espera de ser recebido por alguém, e o rapaz da NTV também não entrou em pormenores. Confesso porém certo receio. Como é que se está quase a sair da recepção? Com um pé dentro e outro fora? E quando a Alemanha finalmente sair, é porque foi atendida, ou apenas desistiu de secar? Quem eventualmente recepcionará o gigante germânico? E com que fim? A sala é agradável? Convinha não deixar a coisa pela rama: a impaciência alemã não costuma originar alegrias. E, de resto, o jornalismo existe para nos informar.

quinta-feira, novembro 13, 2003

Publicidade enganosa

O Cruzes Canhoto anuncia em caixa (não muito) alta o topless da Jessica Lynch. Movido pelo genuíno interesse em estratégia militar, um tipo anima-se, segue o link e... dá com uma página chata como o caraças do Daily News, em que uma das duas únicas fotos é do rosto (nada famoso) da moça, e a outra da moça em traje coimbrão, ao lado da Toni Morrison vestida de sargento e do busto, demasiado coberto, da Britney Spears. Caros canhotos, não se engana assim os incautos. O que pensaríeis vós se eu vos animasse com a perspectiva da J-Lo numa sessão de lesbian-fist-fucking e vos recambiasse, por exemplo, para aqui?

Íntimas desordens

Fiz o teste de que a equilibradíssima Charlotte fala. Não divulgo os resultados: dado que, na minha personalidade, a componente paranóica até é a mais irrelevante, ‘eles’ são bem capazes de andar mesmo atrás de mim.

terça-feira, novembro 11, 2003

Ao cuidado da ciência

Há uma forma peculiar de demência, ignoro se exclusivamente nacional, que, talvez pelo seu carácter recente, não tem merecido a devida atenção da comunidade psiquiátrica - fictícia ou verdadeira.
A sintomatologia é curiosa, revelando-se apenas na presença de câmaras televisivas. Consiste, por parte dos pacientes, na busca obsessiva das respectivas objectivas - não para intervir activamente na filmagem (esse tipo de loucura é velho e muito estudado) - mas apenas para se colocarem atrás do sujeito filmado.
Esta ‘fixação no segundo plano’, na definição feliz do dr. Rui Frade, ele próprio um investigador-participante da outra, e mais comum, variante, tem acometido com certa gravidade um número crescente de cidadãos. É vê-los acotovelarem-se, de telemóvel em punho, na retaguarda do subchefe da GNR sempre que uma inundação ou um desastre rodoviário reclama as equipas da Sic ou da Tvi. Na generalidade são, felizmente, casos ligeiros, que registam imediatas melhoras quando baixa a água ou se removem os destroços do carro.
Há, contudo, quem padeça de estádios muitíssimo avançados da maleita. Lembro-me, de repente, de dois exemplos públicos. Um, que o vulgo carinhosamente apelidou de ‘Emplastro’ ou ‘Animal’, adquiriu vasta notoriedade quando foi usado por Herman José para subir audiências. Ou quando surgiu ao longo de 1458 emissões em directo nas imediações de campos de futebol.
O outro caso clínico tristemente famoso chama-se José Miranda, que o bom povo alcunhou de ‘Narciso’. Ainda no último sábado era vê-lo nos bastidores da reunião socialista, saltitando atrás de cada entrevistado, sorrisinho maroto e desconexo. Ora dava um passito à frente, ora chegava-se dois para o lado, de modo a nunca sair do campo de visão dos telespectadores. Nos intervalos do árduo exercício, treinado há longos anos, compunha a gravata e treinava o perfil, fitando de esguelha o ponto de mira.
Os telespectadores, na sua boçalidade, divertem-se com coisas assim. Vergonha deles: deviam antes financiar a cura, criar associações de apoio, colocar na lapela um laço simbólico da desdita. A solidariedade não pode nem deve ser palavra vã.

segunda-feira, novembro 10, 2003

Até amanhã, camarada

O dr. Cunhal completou hoje 90 anos. Dado que a criatura não me inspira qualquer respeito, escuso-me aos salamaleques da praxe. Noto apenas que, na semana passada, o dr. Cunhal assinou um texto no Avante e toda a gente desatou a imaginar sinais de enorme progresso ideológico - só porque ele se esqueceu de um hífen. Lamento, mas repito: o dr. Cunhal completou hoje 90 anos. Se eu, por milagre ou castigo, um dia lá chegar, espero ter-me esquecido inclusive da própria existência do comunismo.

Uma boa causa

Que o Carlos Abreu Amorim (um grande abraço) me perdoe, mas, como outro Carlos resumiu com propriedade, o dr. Manuel Monteiro não existe, pelo que escrever sobre o moço arrisca-se a ser um exercício no vazio. Infelizmente, para uma nulidade ontológica, o dr. Monteiro possui a singular capacidade de incomodar o próximo. Não é aquele incómodo a que se referem os treinadores da bola (tipo ‘o Estrela da Amadora está a incomodar muita gente, por isso as arbitragens têm sido esta vergonha’). Trata-se do incómodo mais literal, à semelhança do provocado por um gato no cio, ou pelos discos da Dulce Pontes. Tudo, no dr. Monteiro, irrita: os discursos, o penteado, os ‘argumentos’, os fatos, os gestos descritos pelas mãozinhas. Como agravante, o dr. Monteiro tem surgido na televisão com uma frequência muito superior à dos gatos ou da Dulce. Sem querer ser pessimista, temo que, à medida que as ‘europeias’ e as ‘autárquicas’ e as legislativas e as ‘presidenciais’ se aproximem, ele ainda surja mais amiúde, mais enjoativo, mais dr. Monteiro. Donde proponho uma medida drástica: à primeira oportunidade, votamos em peso no homem e enviámo-lo para Estrasburgo. Isto, claro, se ele se comprometer, com assinatura reconhecida, a não regressar. Se o problema é emprego, arranja-se um emprego, mediante inédita cunha colectiva. Mas depois ele que não nos venha pedir mais nada.

O Alexandre Andrade escreve:

Caro blog Homem-a-Dias, eu gostaria muito de perceber o sentido das seguintes frases, passo a citá-lo:«aproveitámos para discorrer de modo alarve acerca das minorias oprimidas, incluindo os ‘gays’ e os leitores da sra. Maria Gabriela Llansol (perdoem a redundância)». Por mais que eu porfie, o seu alcance escapa-me. Muito obrigado. Cordialmente, Alexandre.

Em primeiro lugar, desculpe o atraso na resposta. Em segundo lugar, desculpe, mas não há resposta. Como qualquer obra de arte, os posts deste blogue bastam-se a si mesmos. Já os livros da dona Llansol, pelo contrário, exigem manual anexo - mas nisso eu não tenho a menor responsabilidade. Quanto ao mais, tente seguir o adágio popular: Quem não porfia, não se cansa. Melhores cumprimentos.

Dialéctica de bolso

A blogosfera é um universo curioso. Quanto menos escrevo, mais visitas tenho. Quanto mais visitas, menos correio. Quanto menos correio, mais referências noutros blogues. Quanto mais referências, menor a minha vontade em responder. Quanto menos vontade, mais entro em polémicas. Quanto mais polémicas, menos o Homem a Dias me estimula. Quanto menos estímulo, mais dou por mim ao teclado, a digitar posts tontos como este, em vez de seguir pelos média o futuro do PS, que tanto nos devia inquietar.

quinta-feira, novembro 06, 2003

Seara alheia

Por mero exibicionismo, assisti a dez minutos do jogo Benfica vs. Uns Escandinavos Anónimos. Desde o primeiro momento, alguma coisa me pareceu estranha. Não, não era só o facto do Benfica já ter marcado dois golos. Era, percebi em seguida, o estilo dos 'comentadores'. Normalmente, os comentadores de futebol asseguram uma notável produção de disparates/segundo. Estes ultrapassavam em muito a normalidade: falavam com a velocidade do Speedy Gonzalez; argumentavam aos tombos e em simultâneo; competiam nas hipérboles, que esticavam de acordo com a pobreza do desafio.
Atribuí a enxurrada à circunstância de uns dos artistas do microfone ser o sr. Fernando Seara, ao que julgo autarca de Sintra. Uma tese, valha a verdade, sem grande sustentação. Anyway: quando o sr. Seara proclamou, em tom de animador de comício no PREC, «O Benfica ‘acelarou’! (sic); o Benfica galvanizou-se!», desliguei o televisor e fui dar de comer aos meus cães. Ontem, os 'estudantes'. Hoje, isto. Às vezes, uma pessoa cansa-se da própria espécie.

Desmentido

Como já será do domínio público, existe um blogue de apoio à candidatura do eng. Guterres a Belém. Tanto me faz. Noto apenas que os respectivos posts são assinados por ‘AG2006’, e , não apreciando eventuais confusões, informo que as iniciais não me dizem respeito: ‘AG’ significa, naturalmente, António Guterres. Naturalmente, quem mais poderia escrever aquilo?

quarta-feira, novembro 05, 2003

E mais um

André Azevedo Alves (Causa Liberal)

«No sentido de contribuir para o sucesso do censo, informo que nasci no Porto mas sou transmontano a 50% (e, curiosamente, também de Vimioso).»

[De Vimioso, André? Jura? E pensar que o Causa Liberal foi um dos meus primeiros links... Estou comovido.]

Coerência

O Nuno Mota Pinto e o Nuno Gouveia apreciaram o meu post sobre Rui Rio. Obrigadinho, malta, mas não é novidade. Eu gostava era de ver a esquerda, principalmente aquele pedacinho da esquerda que tanto lamenta a promiscuidade entre a bola e a política, pronunciar-se e reconhecer: Porra, que o tal Rio é bom! ou Foda-se, que o gajo tem tomates. Qual o quê. Há excepções, que já referi aqui. Uma excepção, pelo menos. Uma.

Censo transmontano

Mesmo que curta e precária, aqui vai uma primeira contagem dos blogueiros transmontanos, incluindo, sempre que se justifique, os comentários dos próprios. E os outros, têm vergonha, é?


Ricardo Ruano Pinto (Hipatia)

«Não sei se lhe serve para a estatística, mas aqui no Hipatia, o RRP (Ricardo Ruano Pinto - moi même) é 100% Mogadourense.»


Américo de Sousa (Retórica e Persuasão)

«Serei um oriundo parcial? Nasci no Marco de Canavezes mas nunca lá morei sequer 1/4 do tempo que vivi em Alijó: 2 anos. Bem sei que foi dos meus 5 aos 7 anos de idade, mas de nenhum outro lugar onde residi (e foram vários, espalhados pelo país) conservo hoje recordações tão nítidas como da minha infância em Alijó. Foi lá que fui pela primeira vez a um circo (que coisa deslumbrante!), que tive a minha primeira harmónica ou "gaita de beiços", que aprendi as primeiras letras do alfabeto, que aprendi a guiar uma bicicleta, que "brinquei às casinhas" com as "meninas dos meus olhos", que pela primeira vez comi castanhas, "queijo amarelo" (flamengo) e o escuro e amargo pão de centeio (só havia pão de trigo e de milho no Pinhão). Ah... foi também lá que entrei pela primeira vez num hospital para levar 5 pontos devido a um grande trambolhão (brincadeiras). Quer coisas mais marcantes na vida de um pobre quinquagenário? Que pode um mero local de nascimento contra a força desta minha afectiva e memorável ligação a Trás-os-Montes?»


Chibo Velho

Apesar de ter nascido em Moçambique, os meus pais são de Bruçó (Concelho de Mogadouro) e lá me fiz homenzinho. Se visitar o meu blogue há lá um link para esse, ainda, pedaço de céu que guardado trago para fins de saudade.


Gonçalo Praça (Vizinhos)

«Eu, um dos não sei quantos dos vizinhos, sou filho de pai
de Moncorvo e de mãe de Mirandela, neto de avós de Freixo e também de
Moncorvo (os avôs também eram transmontanos, não me lembro de onde).
Nasci em Lisboa, mas acho que ainda conta, não?»


Miguel Pereira (Em Busca do Tempo Perdido)

«Depois de uma ausência do país e do mundo (este, dos blogs) por razões mais ou menos profissionais, regresso ainda a tempo de responder à sondagem do Homem a dias. Não sei calcular a percentagem mas considerando um pai e uma mãe de Vila Real, acho que deve ser elevada. Pelo menos sente-se como tal e cada viagem para lá para trás dos montes, sente-se sempre como um regresso a casa.
E mesmo sem partido regional, não há dúvida que temos qualquer coisa de especial em comum. Como para além disso ambos criámos raizes em Matosinhos, é caso para dizer que estamos duplamente de parabéns.»


Manuel (De Direita)

Eu, transmontano me confesso. Mais, a minha mãe toma café com a mãe do Aviz, estando como tal terminantemente proibido de discordar dele. O mesmo em relação aos Morais Sarmento de que falava o Mata-Mouros.
Como dizia o nosso Primeiro Durão Barroso: «Os transmontanos estão em todo o lado.»


Fernando Gouveia (Periférica)

«Pois é, no dia em me predisponho - finalmente! - a incluir o Homem a Dias no restrito grupo de blogues (e afins) que têm direito a link no blogue da Periférica (A Oeste Nada de Novo), descubro que o homem é 50% transmontano!
Pois bem, contabilize aí o pessoal da Periférica e do Oeste. Não somos todos transmontanos - ou sequer portugueses (já ultrapassamos os 70 colaboradores) -, mas o 'núcleo duro' é. O centro de poder, digamos.»


Rui Ângelo Araújo (Periférica)

«Passei agora pelo «Homem a Dias» e tomei conhecimento do
seu 'inquérito sumário e uma nadinha xenófobo'.
Hesitei. Por timidez, antes de tudo. Por não ter a certeza de ser um blogger.
Nasci em Trás-os-Montes, vivo em Trás-os-Montes - não sei se sou transmontano.
Afira da nossa transmontanidade. Do cabimento no seu inquérito bloguístico.»

[Nota da Redacção: o Homem a Dias esclarece que conhece a Periférica e que a considera, provavelmente, a única revista cultural que há no país (Proteste à parte). Mais acrescenta que já acompanha, à distância, o pessoal de Vilarelho desde o tempo do Eito Fora, outra revista notável que nos converteu no dia em que lhe descobrimos uma espécie de homenagem oblíqua a Barroso da Fonte, o monstro das mil crónicas semanais, o paladino do Estado Novo, o maltratado ícone da imprensa regional nortenha. E, claro, a entrevista ao João também foi lida. Isto tudo para dizer que se a Periférica ainda não estava nos links, é porque esta casa possui uma organização vergonhosa.]

terça-feira, novembro 04, 2003

Finados

O cemitério de Vimioso é um quadrado pequenino, à saída da vila, pelo lado sul. Do seu interior, se usarmos as pontas do pés ou medirmos um metro e oitenta e tal, vemos a sucessão de outeiros e elevações ligeiras que compõem a paisagem, dali até à Serra da Nogueira, Montesinho ou Sanabria. Sábado passado, acompanhei a minha prima Fátima, com quem vivi parte da adolescência e que é como se fosse minha irmã e com quem levei os últimos anos sem falar e sem motivo, na visita anual àquele despojado sítio. A Fátima tem lá um filho, nado-morto. E os avós dela, meus tios. E o tio dela, meu avô. E o nosso bisavô. O meu pai está enterrado, ao lado da mãe dele e dos pais desta, numa aldeia próxima, que se avista sem esforço por cima do muro, entre os ciprestes. Na tarde de sábado, começava-se a notar o frio do Nordeste, ainda moderado, sete ou oito graus, dizia o termómetro do carro. Havia nuvens altas e escuras. Ao todo, uma dúzia de pessoas executavam os rituais próprios da data, sem alarido. De repente, ocorreu-me: sou ateu, mas se estiver enganado, este é o lugar onde eu vou passar muito tempo, mais tempo do que consigo imaginar. E, após um estremecimento breve, senti um conforto igualmente sem tamanho. Em seguida desci com a Fátima ao café da praça, conversando ninharias.

What?

Eu não conheço o dr. Rui Rio, embora ambos tomássemos o pequeno almoço no Convívio, em mesas separadas e durante anos (será que ele ainda lá vai?). Mesmo que o conhecesse, não deixaria de dizer que se trata do melhor autarca que o nosso miserável municipalismo produziu em vinte e oito anos de democracia (comemoram-se este mês). Mais: é o único político nacional que me faria sair de casa a um Domingo para cumprir com gosto o melancólico dever cívico - nas autárquicas, nas legislativas, nas presidenciais ou num referendo sobre o aborto. Razões? Precisava de horas para enumerar as básicas e o blogger paga pessimamente. Só isto, e não é pouco: por uma vez, temos alguém que governa de acordo com o interesse comum e contra a efervescência súbita. O exercício custa votos? Cabe às gentes do Porto escolher entre a civilização e a Venuzuela. De resto, essa deverá ser a última preocupação do dr. Rio. Eis o que este exacto país não compreende.

Dúvida metódica

O lançamento de um livro do Harry Potter no Panteão tem levantado vasta polémica na blogosfera e nos média menores. Achando indispensável a minha contribuição para o debate, gostaria que me elucidassem primeiro acerca de dois pormenores: 1) Onde fica o Panteão?; 2) O que é o Harry Potter?

Outing II

Os transmontanos da blogosfera começam a revelar-se. Enquanto não publico uma lista provisória, corrijo uma grave imprecisão: afinal, o Luís Rocha é 100% para lá (ou cá) do Marão. Tem mais sorte do que eu, já que um quarto de mim ainda pertence a Oliveira de Azeméis (mal conheço) e outro quarto a Matosinhos (com a agravante do nascimento e residência principal). E digo-lhe: tempos melhores houve, mas, hoje, triste de quem se orgulha de uma terra que possui um clube chamado Leixões, um punhado de praias imundas e o sr. Narciso Miranda. Ah, antes que me atirem com o arq. Siza à cara, rogo-vos: fiquem com o homem. Por favor.

segunda-feira, novembro 03, 2003

A tempo

No «Independente» da última sexta, o Homem a Dias mereceu duas (duas!) referências elogiosas. Dado que nenhuma proveio do João, que é cá de casa, o facto é ainda mais relevante. Obrigado, então, ao Paulo Pinto Mascarenhas e ao João Marques de Almeida pela perspicácia e bom senso.

Revejam os links, sff

O João Sousa mudou-se para aqui. Não é blogue mas é bom na mesma.

Abertura ecuménica

Por circunstâncias que ignoro (genética, socialização, o que quiserem), há pessoas com as quais nunca estou de acordo. Ou quase nunca: de longe a longe há uma ideia, uma inclinação, uma pequenita tese que se partilha inteiramente. E sabe bem. Aconteceu ontem com o artigo da Ana Sá Lopes, frase por frase, sílaba por sílaba. Espero que ela não me leve a mal.

Outing

A propósito dos posts anteriores, lanço um inquérito sumário e um nadinha xenófobo: quem, nesta centralizada blogosfera, é oriundo, parcial ou integralmente, de Trás-os-Montes? Aviso que os resultados da sondagem não visam a formação de um partido regional ou de um movimento pró-autonomia. Apenas a satisfação da minha curiosidade. Aviso também que o Luís Rocha (Vimioso em 50%, como eu) e o Francisco José Viegas (Pocinho, percentagem desconhecida) já se encontram devidamente referenciados.

Mãe só há poucas

Depois de apurada investigação no terreno (perguntei a dois sujeitos), descobri (a sério) que as lendárias Mães de Bragança afinal não passam de um punhado de prostitutas indígenas - apologistas dos métodos caseiros e artesanais - muito preocupadas com a concorrência das grandes superfícies. Ora isto muda radicalmente a perspectiva sobre a questão que a «Time» levou à capa. Deixamos de estar perante uma nebulosa questão moral, para entrarmos num caso típico de mera resistência ao mercado, com um bocadinho de publicidade enganosa à mistura.
À semelhança, por exemplo, do que sucede na guerra das pescas, o trabalhador português reage mal à eficácia estrangeira, que se permite ampliar a oferta de modo a pulverizar o produto final. Para cúmulo, o consumidor sai também largamente beneficiado em matéria de diversidade, fruto das importações directas aos grandes produtores do ramo, como o Brasil e a Ucrânia. O costume, enfim: os nossos recursos humanos fogem da modernização a sete pés e em seguida correm a inventar palermices e a culpar o capitalismo pelas desditas.
Em seu favor, e ao contrário da generalidade das restantes actividades económicas, as «Mães» de Bragança apenas podem argumentar que, no ramo em que se inserem e sem trocadilhos, não beneficiaram de fundos suficientes. Mas que diabos querem elas agora? Olhem, saúde e bichas.