sexta-feira, outubro 31, 2003

Hard «Time»

Se o clima permitir e as hordas de correspondentes internacionais não entupirem as estradas, hoje passarei por Bragança. Há dois meses que lá não vou, o que nos tempos que correm, é imenso. Entretanto, muito deve ter mudado. Conto encontrar uma cidade deprimida, entregue às garras da prostituição organizada. Uma cidade em que as indígenas se vêem silenciadas por imigrantes cariocas, juntas na praça da Sé a esganiçar axé music e pagode barato. Uma cidade em que os cavalheiros abandonaram os respectivos deveres, no campo e nos serviços de ordem vária, e se entregaram a uma existência lasciva. E depois? Desde que ainda haja arroz de lebre no Solar Bragançano, quero que a depressão se quilhe.

Labirintos da mente

A dra. Fátima, conselheira económica da embaixada de Felgueiras na Tijuca, diagnosticou ontem uma «amnésia constante» ao PS. Desconheço se a Ordem dos Médicos tenciona abrir um processo à senhora por usurpação de funções - também, um processo a mais ou a menos não fará grande diferença. Chamo contudo a atenção para o facto de uma «amnésia constante» ser, mesmo aos olhos de um leigo, substancialmente distinta de uma «amnésia lacunar», por exemplo. Assim à primeira vista, parece coisa de outra grandeza, merecedora de tratamento prolongado e árdua convalescença. A psiquiatria que decida. Mas uma pessoa sabe que um partido não está nada bem quando os deputados desse partido saúdam, de pé, o regresso do dr. Jorge Coelho. Decerto, contam com uma «amnésia irreversível» do país.

quinta-feira, outubro 30, 2003

Aviso

...que mesmo não integrando a lista dos psiquiatras registados na Ordem dos Médicos, não me encontro disponível para comentar, discutir ou avaliar a saúde mental do sr. Carlos Silvino. Nada tenho a obstar, porém, que o sr. Carlos Silvino teça considerações a meu respeito.

Homem a Dias em saldos

Não me perguntem como, mas agora já há pelintras que chegam aqui através de links no eBay.

E não é que o sacana cumpriu?

Aí está o melhor diário da internet e arredores.

terça-feira, outubro 28, 2003

Entrevista ao João Pereira Coutinho, que, se o sacana não me deixar ficar mal, vai abrir o site depois de amanhã.

Encontrei o João, sábado de tarde, na sua biblioteca particular. Isto, claro, depois de o procurar durante vinte minutos entre pilhas de Kristols, resmas de Tocquevilles e bolas de Berlins. Enfim, dei com ele atrás de dois exemplares anotados da «Ana Mais Atrevida» e um editorial emoldurado do Pedro Rolo Duarte.
Estava, como é habitual, informalmente vestido: casaco de tweed, gravata de malha e calça de bombazina, tudo em tons acastanhados como de resto aponta a tendência para a estação. E sapatilhas Nike. Os motivos do nosso encontro eram: um café; a devolução de um dvd que o João me sequestrou há meses; uma entrevista para o Homem a Dias, a propósito do site que ele se prepara para inaugurar. Na próxima quinta-feira, dia 30 de Outubro. Acho eu. Acha ele.
Após um longo café, em que aproveitámos para discorrer de modo alarve acerca das minorias oprimidas, incluindo os ‘gays’ e os leitores da sra. Maria Gabriela Llansol (perdoem a redundância), seguiu-se a profícua sessão de perguntas, que abaixo se reproduz (do dvd nem rastro).


João, porquê um site e não um blogue? Pior: porquê um site, aqui e agora?

Queres a resposta honesta ou a resposta politicamente correcta?

Obviamente, a politicamente correcta.

Porque gosto de escrever e sinto que a escrita é um exercício onde comunico algo de muito profundo com os meus leitores. Como dizia o José Luís Peixoto, aliás muito acertadamente, «morreste-me, nenhum olhar».

OK. Agora a honesta.

Para ver se ganho algum dinheiro com publicidade. Existem contactos. Ainda não existem contratos. E, claro, por pura vaidade pessoal. Ninguém escreve por outro motivo. Ninguém. Pachecos, Manéis, Marias. Ninguém. Como abrir o casaco no metro e mostrar as partes à Dona Rosa. Escrever é abrir o casaco. Uma coisa profundamente infantil e levemente paranóica. O resto é poesia.

Se não é indiscrição, costumas abrir o casaco no metro?

Costumava. Mas a partir do momento em que começaram a gostar e a atirar moedas, desisti.

Ao contrário, digamos, do Miguel Sousa Tavares, tu já tiveste um blogue...

Ele também tem. É o Pipi.

Ai o Pipi é o gajo? Bem me parecia que no «Equador» havia qualquer coisa implícita...

Havia. O título. No original, chamava-se «É cu, há dor», um tratado sobre a sodomia no Portugal dos inícios do século. Mas depois aligeiraram.

O costume. As editoras não respeitam a integridade criativa, o que é uma vergonha. A propósito, tens vergonha de Portugal?

Nenhuma. Seria incapaz de viver noutro país, com a provável excepção do Brasil, de Inglaterra e de Itália. E dos Estados Unidos. E, pensando bem, da Irlanda. Já vadiei o suficiente para saber que este país é impagável. O problema são os outros. São sempre os outros. Portugal não tem qualquer culpa de continuar a ser um local mal frequentado.

Dás-me nomes? Pago bem e à peça.

Metade da classe política, metade dos jornalistas, metade dos académicos, metade da blogosfera, etc., etc., etc. Nada de especial, o drama do costume. Somos um País de gente pequena e atrasada e temos as virtudes e os vícios das pessoas pequenas e atrasadas. Não é grave. Quarenta e oito anos não se apagam da noite para o dia.

Estamos optimistas. Queres dizer que há uma metade boa, grande, virtuosa e evoluída?

Não. Quero dizer que há uma metade que não envergonha. Uma metade que podias convidar para um café lá em casa sem temeres pelas pratas.

Como sabes, a minha casa já foi assaltada duas vezes e a maior despesa coube aos ladrões - em logística. Outra coisa: de que vai constar o teu site?

Uma por dia, é o lema. Um tema por dia, de segunda a sexta. E sem eufemismos, por favor.

Pequenas crónicas?

Textos pessoais, crónicas, crítica literária, pequenos insultos sem qualquer importância, pequenos elogios sem pés nem cabeça. A velha ambição de tentar organizar o mundo na minha cabeça.

Como o Carlos Pinto Coelho não diria melhor (diria, diria...), vais manter o género irreverente a que nos habituaste, espero?

Sim. Mas sem nunca cair nos excessos e na violência mental de um Carlos Pinto Coelho.

Que Deus o tenha. Uma palavrinha sobre a Coluna Infame?

Nenhuma palavrinha. O que escrevi na última posta da Coluna mantém-se. Até hoje. Os outros que se entretenham a mexer no cadáver.

Lá se vão as audiências. Mudando de assunto, não achas que, parafraseando ninguém*, o Daniel Oliveira foi a Yoko Ono da Coluna?

Muito honestamente, os meus problemas com o Daniel Oliveira terminaram quando eu terminei a minha colaboração com a Coluna Infame. Disse o que tinha a dizer, agradeci, saí do palco. Eu sei que as pessoas gostam de sangue, telenovela, etc., mas o que se passou é um capítulo perfeitamente encerrado. Escreveu-se muito, houve insultos, mentiras, puras fabricações mentais, nunca abri a boca porque não tenho qualquer interesse em remexer na merda. Tenho uma vida feliz, ou razoavelmente feliz, com pessoas que amo e estimo. A vida é breve e o resto é ruído.

Qual é o teu blogue preferido?

O Homem a Dias.

Não, a sério.

O Meu Pipi, claro.

Aí, já estou mais de acordo. Pensas abrir novas polémicas com a blogosfera?

Ninguém abre conscientemente polémicas, excepto o sr. José Saramago, o único escritor do mundo - e, provavelmente, da história da literatura ocidental - que, antes de escrever um romance, já veio para a rua em cuecas, a prometer escândalo. Extraordinário! Não procuro polémicas. Mas acho que está tudo demasiado sério e formal na blogosfera. Os blogues começaram como gesto radical de liberdade e agora parecem-me mais interessados em copiar os piores vícios da paróquia lusitana: a deferência, o respeitinho, aquela canídea vontade de farejar as retaguardas do vizinho, típica do meio cultural português. É pena.

Mas há excepções à seriedade, pá.

Eu sei. Mas o tom geral não agrada. Opinião pessoal. Como sempre, opinião pessoal.

Quais são os teus cronistas de imprensa preferidos, hoje?

Alberto Gonçalves, sextas-feiras, Correio da Manhã.

Não, a sério.

Acho que não se publica nada de remotamente comparável às crónicas do Paul Johnson na Spectator.

Certo, e o Mark Steyn?

Canadiano, rapaz.

E portugueses, ninguém que se veja?

Honestamente, não leio ninguém com regularidade. Passo os olhos.

Já te aconselhei a Helena Matos. E uma dúzia de blogues muito bem escritos. Alguns, pasme-se, de esquerda.

Eu sei. Conheço as crónicas da Helena Matos e existem blogues excelentes. Estou a falar a sério. Gosto do Bomba Inteligente - uma espécie de Petronella Wyatt à nossa medida, muito bom, o tom certo, aquela mistura de intimidade e irrisão quotidiana. Gosto do Contra a Corrente, um exemplo de sanidade mental. O Flor de Obsessão é também excelente: o Lomba conseguiu o tom certo - a angústia interior do Nelson Rodrigues, o Nelson das crónicas, não das peças teatrais. E na esquerda gosto muito da Praia, do Ivan Nunes. Brilhantemente pensado e escrito. Mas existem outros.

Achas razoável que te considerem um gajo de direita?

Quero lá saber. Se o grande conflito político é, até hoje, o velho conflito entre o Real e o Ideal, entre o ser e o dever ser - o velho Hume's fork -, então estou do lado do Real. Não acredito em nenhum ideal redentor, salvífico e definitivo e acho que a política não é uma actividade criativa, ao contrário do que dizem os meninos do Bloco. É uma actividade activa, ou melhor, reactiva. Como um sapateiro. Só deve agir quando as solas estão a precisar de conserto. Se isto é ser de direita, sou de direita. Se o desejo de açaimar a ferocidade intrínseca do poder é ser de direita, então sou de direita. Se não desejar impor nenhuma estrada salvifica ao meu semelhante é ser de direita, tudo bem, põe aí que eu sou direita. Who cares?

Nobody, I think. E quanto a religião, continuas católico, apostólico e, por razões que não vêm ao caso, napolitano?

Sou um católico reticente. E, como todos os napolitanos devotos, um apostólico excessivo. Nem me fales de Nápoles. Que mulheres, que comida, que mar, que gente.

Acredito. E pronto, rapaz. É verdade: o jantar de segunda fica adiado para terça, pode ser?

Outra vez? É sempre a mesma merda.

[* 'ninguém', o tanas: a comparação é do Francisco Mendes da Silva, publicada no Quinto dos Impérios, em 7 de Junho. Peço desculpa pela apropriação indevida mas inconsciente.]

segunda-feira, outubro 27, 2003

Talvez Weber

O Pedro Mexia pergunta:

«Pessoalmente, nada me dá menos tusa do que uma referência à sociologia. (...) Mas haverá quem considera sexy a sociologia, e uma socióloga?»

Eu convivi cinco anos com o género, ainda que em fase formativa, e posso responder com propriedade às questões: fora de centros de reabilitação ou gabinetes universitários, não deve haver ninguém.
A sociologia como, digamos, ‘ciência’, é uma obsessão permanente com ‘regularidades’ colectivas e fenómenos ‘totais’. Ou seja: as luminárias do género preocuparam-se tanto em levar para a cama, no mínimo, uma amostra representativa de quatro estratos sociais, à conta de estudo comparativo, que invariavelmente terminavam na mão, ou na criada (sobre a qual consta que, na velhice, Marx terá recordado com doçura: «Sempre lucrei alguma coisa com essa relação. Foi produtiva... Enfim, mais valia a moça do que nada.»)
No que toca, salvo seja, às sociólogas, não perturbando a regra lembro-me de duas excepções. Uma é do foro privado; a outra é a prof. Maria Carrilho, sem uns anitos em cima, sem trocadilhos e sem compêndios nas imediações.

Vem no Público:

«A Associação dos Doentes Obesos e Ex-Obesos (ADEXO) vai apresentar, na quarta-feira, ao ministro da Saúde uma proposta onde apela à comparticipação do Estado no tratamento da obesidade e a criação de pelo menos cinco centros de referência específicos para o tratamento de doentes obesos, anunciou hoje a associação.»

Na minha vasta ingenuidade, eu sempre pensei que a obesidade era resultado da gula, e não de doença. Depois uma pessoa pensa melhor e constata que esta diferença na terminologia e no fundamento não é casual, dado que os pecados são bastante menos susceptíveis a subsídios: Deus é muito criterioso com o orçamento. Além disso, quando o Todo-Poderoso se dispõe conceder audiências a dirigentes associativos, eles geralmente já morreram.

Penitência

Devo um sincero agradecimento à Charlotte pelo convite para a festa do Pipi. E um pedido de desculpas por não ter comparecido. Eu já a tinha avisado: moro a trezentos quilómetros de Lisboa e, trezentos metros que fosse, não é fácil arrancarem-me de casa para uma festa em que não conheço vivalma. Não sou esquerdista festivo, nem liberal empolgado. Sou assim mais para o anarca discreto. Confesso, no entanto, certa pena de não ter confraternizado com alguns dos blogueiros presentes. Que incluem, naturalmente, a própria Charlotte (mas o Cabaret da Coxa serviu de relativa compensação).
Já agora, continuo a acompanhar o fascinante folhetim ‘Quem é o Pipi?’, sem resultados palpáveis. Pior: não só não sei quem é o Pipi, como também ignoro quem seja, por exemplo, o Pedro Rolo Duarte. Escusado dizê-lo, o 'Pedro Rolo Duarte', enquanto tal, naturalmente não existe. Nem podia.

sexta-feira, outubro 24, 2003

XXX-Files

A exemplo da carreira discográfica do sr. Represas, há diversos males que parecem durar indefinidamente. Uma das pragas recorrentes dos últimos anos é a da «conspiração» que terá assassinado Diana Spencer, ‘princesa do povo’, para alguns, mulher do povo, para inúmeros outros. Nos quiosques deste republicano país, a capa da insuspeita «Nova Gente» regressou ao fascinante tema, agora com a divulgação de uma carta em que a saudosa princesinha terá alertado (quem?) para uma marosca que ‘eles’ se preparavam para lhe fazer ao carro. Não li a revista, mas no caso, ‘eles’ são com certeza a família real e o MI5, que, do alto da sua intrínseca maldade, sabotaram o famoso Mercedes, mediante a inclusão ao volante de um bêbado, programado para conduzir nas vielas de Paris a 200 quilómetros por hora. A revelação não surpreende. O que surpreende sempre um bocadinho, e não é por falta de hábito, é a tendência dos média para servir lixo, e a capacidade dos simples para consumi-lo.

Noite branca

Esta noite, enquanto a Comissão Política do PS se reunia, a Sic Notícias passou um comunicado do dr. Ferro. O dito, por razões que não alcanço, foi declamado na doce voz do dr. Santos Silva - o que, de qualquer modo, lhe conferiu um dramatismo muito peculiar. Tão peculiar, que eu adormeci ao fim de dois minutos. Quando acordei, alta madrugada, a televisão continuava ligada e a Comissão continuava reunida, prolongando um suspense que roubou o sono a sensivelmente 0,000032% dos portugueses, valor que equivalia aos participantes no importantíssimo encontro, mais o porteiro da sede e sete choferes. Na Sic Notícias, aquele rapaz que tirou umas fotografias ao lado da Marisa Cruz permanecia igualmente alerta, pronto a interromper a pacatez da noite lusitana com a notícia de uma demissão em bloco, uma dissidência das antigas, uma sessão de bordoada que fosse. Folheei, à laia de rotina, uma magnum opus do arquitecto Saraiva - não me recordo se o romance ou as «Confissões» - e voltei a adormecer.
Hoje de manhã, os jornais não traziam novidades, o Fórum da TSF vertia fúrias sobre um assunto que não identifiquei, não usufruí ainda do acesso a um televisor e a internet do escritório só me dá desgostos. Quero dizer: alguém sabe o que aconteceu? Há novidades da Comissão, ou a direcção do PS mantém-se enclausurada? Não será melhor arrombar a porta? Se acossados em excesso, certos grupos optam pelo suicídio colectivo, como a tragédia do Templo do Sol, por exemplo, não nos devia deixar esquecer.
O mais certo, porém, é que algum socialista tenha dado um murro na mesa e, à semelhança do que sucedeu no Parlamento, a mesa partiu-se. Se calhar, o PS aguarda apenas um carpinteiro. O que, nos dias que correm, é mais difícil de aparecer que o dr. Vitorino.

quinta-feira, outubro 23, 2003

Literatura fantástica

No «Público» de hoje, EPC volta em grande à tradição da ‘stand-down comedy’, de que ele é um dos últimos fiéis depositários nacionais. Segundo Sua Eminência, sabem o que acontece a um sujeito licenciado se o tratarem por um reles ‘Sr.’? Simples: o sujeito é assaltado por um «sentimento de irrealidade que é mais próprio da literatura fantástica do que do realismo quotidiano. Por uma simples forma de tratamento passa-se de repente para o lado de lá. E o pesadelo consiste em não saber se a viagem tem regresso...»
E o engraçado é que se calhar é verdade. Pelo sim, pelo não, experimentem dirigir-se ao Excelentíssimo Professor Doutor EPC por ‘Sr.’, e, com atenção, vejam se ele incorre no «sentimento de irrealidade mais próprio da literatura fantástica» e se, «de repente», passa para «o lado de lá». Depois esperem um pedacinho a fim de confirmar se ele regressou da viagem. Caso contrário, chamem o 112, extensão «realismo quotidiano».

Apelo à inquietação

Contas rápidas, o Miguel não escreve vai para uma semana. Sumiu-se assim, sem aviso nem atestado nem respeito pelas mais básicas regras da blogosfera. Faz-nos falta um bastonário de qualquer coisa que ponha ordem nisto.

Um bug português

Ainda deu para o próximo artigo no «Correio da Manhã». Mas tenho a impressão de que, muito em breve, o meu Google interno será acometido de um bloqueio qualquer e deixará de responder às seguintes palavras, por ordem de saturação:

Pia
‘Mediatização’
Cabala
Justiça
Provedor(a)
Urdidura
Privacidade
Sensacionalismo
Pedofilia
Magistrado
Crise
Pedroso
Especulação
Apelo
Bibi
Conspiração
Criança
Namora
Serenidade
Ferro
Indícios
Pide
Divulgação
Júdice
Escutas
Violação
Reforma
Presunção
Arguido
Psiquiatra
Segredo
Transcrição
Orientado
Testemunha
Procurador
Telemóvel
Inocência
Processo
Pântano
Julgamento
Advogado
José Mourinho

(infelizmente, continua)

quarta-feira, outubro 22, 2003

Ao meu caríssimo...

...e comprometidíssimo Espectador, deixo duas notas, para que conste:

1) Sobre o «Absolute Power» vs. «Unforgiven», não tenha dúvidas do lado em que a minha resposta está.
2) Sobre a ‘eastwoodiana’ em geral, o Luciano por acaso já viu uma coisita menor chamada «Honkytonk Man»? E o que achou?

terça-feira, outubro 21, 2003

Interlúdio sentimental

Ontem, como sucede a tempo e data incertos, foi dia de jantar com os meus amigos de infância. Dantes, éramos cinco fedelhos. Agora somos: um técnico informático, um produtor discográfico, o dono de uma empresa de audiovisual, um industrial de conservas e este vosso criado. Politicamente, um é PSD, outro é vagamente socialista, dois nunca tiveram cartão de eleitor e eu - eu não estou seguro. As nossas mulheres não se conhecem ou conhecem-se mal. Apesar de uma ou outra alegada simpatia clubística, jamais falámos de futebol.
Entre nós, pois, há poucos laços daqueles que parecem estimular o convívio das pessoas adultas, como a profissão, a família, a ideologia ou a bola. O que nos aproxima é esse vulto esdrúxulo a que se chama amizade, que é quase tudo e não se define e não permite que se contem as horas que passamos em conjunto.
Esta noite, cheguei a casa pelas quatro. Eles também. De manhã, digamos assim, arrastei-me para o trabalho com a ligeira ressaca da praxe e imenso sono. Eles, aposto, também. E essa irresponsabilidade partilhada, que dura vai para trinta anos e assenta em coisa nenhuma que se veja ou venda, é um dos maiores orgulhos que eu tenho na vida. E eles, acredito, também.

O rapaz sabe-a toda

Além de manter um dos melhores blogues disponíveis, este Espectador está comprometido com a sabedoria. Para mim, «A Perfect World» só não é o melhor filme dos últimos dez anos porque há o tal «Ghost World». A obra completa de João Mário Grilo é ‘hors concurs’, claro.

Por um triz

Ontem, lembrei-me de incluir a frase "malhar no Ferro enquanto está quente" em possível artigo sobre a crise no PS. Hoje, o editorial do Público salvou-me de mais um trocadilho escusado. Obrigado, acho eu, ao Nuno Pacheco.

Coming of age

O Pedro lamenta não ter vindo ao Porto para o concerto do Will Oldham. Meu caro: o concerto foi em Matosinhos, eu vivo em Matosinhos, estava a cem metros do espectáculo à hora em que o dito decorria e, mesmo assim, troquei as datas e perdi o homem. Confirmado: um filofax, os produtos da Post-it, a agenda do Nokia Communicator e o meu cérebro já não me são de grande préstimo. Resta-me, como agora sói dizer-se, confiar na justiça.

Recados

Agradeço referências lisonjeiras no recente Mephistopheles e no clássico Mata Mouros (cuja secção Melhores da Semana ameaça saudável institucionalização - qualquer dia vêem-se obrigados a organizar festins regulares e distribuir Ordens de Santiago pelo pessoal). Quanto ao Bicho Mau, julgo tê-lo visto entre a audiência dos Tindersticks, mais ou menos a duas cadeiras da minha. Infelizmente, estando escuro, ele não reparou no enorme dístico de «Blogueiro: Falem Comigo» que exibo na lapela em todos os eventos públicos.

segunda-feira, outubro 20, 2003

O acto judicial

Um leitor, Jorge Bento, enviou-me a seguinte notícia, sem dúvida reveladora do à-vontade com que os franceses se mexem nas questões da Justiça:

«(Bordeaux, France) - A French magistrate caught masturbating during a court session was locked up on Thursday and put under investigation, justice officials in the south-western city of Bordeaux said.
The head judge of the city's appeals court said ‘a penal inquiry ordered by the prosecutor of the republic is currently being carried out by the police’ while a request for a psychiatric evaluation of the magistrate - who was not named - had been made.
He said the justice ministry had also been asked to temporarily suspend the magistrate while the matter was looked into.
According to La Charente Libre, a local newspaper who had a reporter in court at the time of the alleged offence, the magistrate had discreetly lifted up his ceremonial robe while a lawyer was presenting final arguments, undid his pants and ‘engaged in gestures that left nothing to the imagination’. Sapa-AFP

P.S. O 'seu' jornal CM foi o único a dar esta notícia. Eu sei que a mesma não foi veiculada pela Al Jazira, e deve ter sido por isso que a restante imprensa a ignorou. Ainda se o juiz fosse americano... Ou estivesse no tribunal de Bragança!»

Marketing & Maomé

Não quero beliscar a credibilidade da Al-Jazira, mas cada nova «aparição» do sr. Bin Laden levanta-me sempre algumas dívidas. Principalmente sobre o facto do homem só «aparecer» em cassetes audio. Um costume, aliás, partilhado com a elite do terrorismo internacional em fuga, tipo Saddam e o santificado Omar (visto pela última vez a abandonar Cabul numa Vespa, vai para dois anos).
Pergunto: a rapaziada que abriga estes párias desconhece que as câmaras de vídeo já são comercializadas desde 1975? É que, dado o objectivo das sazonais «mensagens» consistir em demonstrar ao mundo a sobrevivência e o vigor do sr. Laden e afins, um filmezito ajudaria muito mais. Uma voz qualquer Fernando Pereira imita, sobretudo se a mesma tem a qualidade sonora do Oscar Wilde a declamar excertos do «De Profundis». Agora um homemovie, daqueles jeitosos, com churrasco, crianças em corrida e o sr. Laden a apalpar, galhofeiro, doze ou treze das respectivas esposas, faria maravilhas pela causa do Islão.
Actualizem-se, por amor de Alá, e ponham os olhos no compincha Arafat. Mesmo ele, que pretende exibir as pérfidas condições a que os malvados israelitas o condenaram, surge diariamente em filmagens perfeitas, ao vivo e a cores. É como na «pop»: os discos são uma formalidade; os «clips» são essenciais. Em vez de se armar em CNN, a Al-Jazira devia cumprir a sua verdadeira vocação e colar-se à MTV, divulgando com outro primor os artistas locais. Caso contrário, os srs. Laden, Saddam & etc. arriscam-se a comprometer seriamente as promissoras carreiras.

Problemas de identidade

Fui, ontem, ao concerto dos Tindersticks. Comento-o com uma palavra que nunca tinha escrito antes: escorreito. A banda tem estilo. As canções são, digamos, porreirinhas (e às vezes boas). O alinhamento foi perfeito. O Coliseu do Porto estava repleto de devotos. Mas faltou um não sei o quê - que, com os Tindersticks, falta sempre. Vejamos a coisa deste modo: quando Cohen actua, o sujeito é Cohen; quando os Tinderstcks actuam, o sujeito é Cohen também. E Lee Hazlewood. E os Velvet Underground. Talvez o excesso de referências atrapalhe. Ou talvez isto seja conversa fiada, e a questão se resuma ao talento que uns têm em abundância, e os outros nem por isso.

sábado, outubro 18, 2003

Socialismo escatológico

A direcção do partido socialista, encabeçada, ao que consta, pelo dr. Ferro Rodrigues, veio ontem criticar as violações do segredo de justiça. A crítica deveu-se principalmente à revelação de umas escutas telefónicas, nas quais o dr. Ferro Rodrigues se confessava ‘cagando’ para o dito segredo.
Ou temos aqui um caso exemplar de esquizofrenia, ou, o que é mais provável, está tudo bem e sucede apenas que a direcção do PS tem a defecação em altíssima conta. Nada a obstar: Mozart também tinha. E obrou imenso.

Exercício de lógica

Há bocado, acompanhei o café e os jornais com a escuta (legítima) da conversa entre duas moçoilas, a poucas mesas de distância. Alguns highlights:

«- É incrível como tu, na privada, tens estágio assegurado, e eu tenho que consegui-lo sozinha.»
«- Sabes como é...»
(...)
«- Eu só estou a par do que se passa pelas revistas [segurava a «Caras»]. Nem tenho tempo de ver televisão.»
«- É como eu. E gosto tanto das ‘Mulheres Apaixonadas’.»
«- Também eu!»
(...)
«- Ó pá, digam o que disserem, mas uma pessoa com um curso superior tem de ter outra forma de estar.»
«- Isso é lógico.»

Reforço vitamínico

Estou há uns dias em falta com o João Sousa. Culpa e distracção minhas, sobretudo porque o blogue dele, o Vitamina C, é dos exige divulgação urgente. Por ser bom, por ser duro e frontal, por originar dores nas costas ao autor (ver post abaixo) e, venha de lá a sinceridade, por me emparelhar com o João e o VPV.

sexta-feira, outubro 17, 2003

Um dia de cão

Não exagero: estou há oito horas em volta de um problema informático que transformou o meu pc numa coisa descoordenada e «irreverente», assim tipo manifestante das propinas. Embora o «site meter», por exemplo, tenha sumido sem prestar contas, o principal «conflito» de software, de momento, parece sanado. E quem quer saber? Doem-me as costas, a cabeça e os olhos. Jantei mal e à pressa. A minha mulher, naturalmente, não fala comigo. Eu falo comigo - o que também não é um bom sinal.
Talvez me passem, as dores e a tendência, mas começo a fitar os computadores com um asco semelhante àquele que o estado-maior do PS com certeza dedica, hoje em dia, aos telemóveis. A culpa não é do progresso: é do atraso, que vai impedindo a existência de um Windows capaz, de um computador sem «conflitos» e, já agora, de um telemóvel inescrutável - a terceiros, claro.

quinta-feira, outubro 16, 2003

O homem vestido de branco

O Ocidente está cada vez mais compassivo e fatigante. Dantes, se uma pessoa se condoía pelos desgraçados dos leprosos, limitava-se a dizer «Coitadinho!» e a correr em frente como um galgo. Em finais do séc. XIX, as vítimas da filariose (ou elefantíase - ver Lynch, David) e deformações em geral já mereciam paragem prolongada, pagamento à entrada e uns suspiros, menos de pena que de repulsa.
Nos famigerados anos 80 do século passado, a coisa começou a complicar-se, quando os piedosos que simulavam simpatia pelas vítimas da SIDA se viram obrigados a exibir um lacinho vermelho na lapela. Não era, ainda, muito grave: o penduricalho, além de não pesar dez gramas, ficava praticamente de borla e caía a matar (sem trocadilho) em elegante traje escuro. O êxito foi tal que, durante algum tempo, o merchandising da misericórdia se quedou por penduricalhos similares, variando a cor e a forma em função da calamidade a que se reportavam.
Em Portugal, pelo menos, a chatice a sério coincidiu com os massacres em Timor, há uns quatro anos: sujeito sensível, daqueles que não trocavam o «Lorosae» pelo «Leste», era socialmente constrangido a acender velas a horas absurdas e nos locais mais impróprios, a ouvir o cançonetista Represas e, para cúmulo, a pendurar farrapos nas janelas. Aos timorenses, os sacrifícios não serviam de muito - como de resto a iconografia anterior se revelou inútil às vítimas de qualquer calamidade - mas, de um bizarro modo, consolavam os respectivos praticantes.
Nada, porém, se compara aos esforços dos que escolhem sofrer em nome da pedofilia. Um feio dia, na Bélgica, um bando de manifestantes resolveu vestir-se de branco (por referência às pombas ou algo assim) e eis criado o uniforme oficial da Brigada da Castração. Por cá, fatalmente atrasados nas tendências do glamour, só há umas semanas o alvo modelo teve a sua estreia, na hilariante Marcha Branca. Se, contudo, havia quem julgasse que a moda seria passageira, fruto de uma falha momentânea nos mecanismos de detecção do ridículo entre os participantes, o dr. Pedro Namora deu o exemplo e mostrou ontem, no Parlamento, que o branco veio para ficar. Olhamos para o moço (e condizente séquito) em figura triste e escangalhamo-nos às gargalhadas, mas não deixamos de imaginar a dor que ele deveras finge sentir. As crianças justificam tudo. Até isto.

Filmes pornográficos saem do Cine Paraíso

Parece que este afamado retiro, próximo do Largo de Camões na geografia e de Bragança no espírito, deixará de exibir fitas sérias para se dedicar às pantominices do Fantasporto. Julgo que ainda não há data marcada para a deprimente transição, mas consta que os espectadores já fogem em debandada.

quarta-feira, outubro 15, 2003

Os dias de Budapeste

Alguém chegou ao meu blogue depois de digitar ‘homem a dias’ no Google da Hungria. Claro que o ‘a’ não fez parte da pesquisa, até porque, como todos sabem, «‘a’ szó túl általános, ezért kimaradt a keresésbõl».

Balas e bolinhos

O Velho da Montanha congratulou-me pelo post sobre a reportagem da «Time». O Pedro Oliveira, do Alma Despida, acrescentou uma curiosa perspectiva ao mesmo assunto. E a Lolita, do Blogame Mucho, chamou-me «boçal ostensivo» por ter fumado nas imediações de um anti-tabagista. Agradeço a todos.

terça-feira, outubro 14, 2003

As putas não sabem nadar

Ainda não vi, mas disseram-me que, ao longo de oito páginas, a «Time» desta semana descobre em Bragança a Sodoma do séc. XXI, exclusivamente heterossexual e com sotaque brasileiro. Não sei se alguma das lendárias Mães locais é correspondente europeia da revista. Sei que vou a Bragança dezenas de vezes por ano (sou de um concelho vizinho), e nunca encontrei quaisquer vestígios desse orgíaco mundo subterrâneo. Se calhar, é demasiado subterrâneo para a intuição deste vosso criado, admito. De uma forma ou de outra, a ser verdade e agora que a minha consorte não nos lê, imploro às autoridades que comecem a incluir os eixos de luxúria nos roteiros oficiais da cidade, fornecendo moradas, telefones e, se possível, imagens graficamente explícitas das maravilhas que temos andado a perder. Caso contrário, para os incautos como eu, Bragança continuará a assemelhar-se a uma cidadezinha de província, onde se janta divinamente e, em seguida, a falta de actividades digestivas de pendor cultural faz-se sentir com acintosa frequência. Perante o artigo da «Time», o sr. governador civil pede reforços policiais; eu peço divulgação ampla, adequada e nacional. Parece-me justo, a menos que os responsáveis deste País insistam em manter a Cultura adiada, deixando que os arqueólogos desenterrem as brasileiras quando estas não passarem de fósseis e garatujas na parede.

A cabala de Tróia

Vi, há bocado, a dra. Ana Gomes na Sic Notícias, exaltada e absurda ‘comme d’habitude’. Eu nem sei bem quem é - ou o que é - a dra. Ana Gomes. Mas cada vez que ela aparece em público mais me convence de que existe, realmente, uma cabala contra o PS. Liderada por esta senhora. Mil desculpas, dr. Ferro.

segunda-feira, outubro 13, 2003

e-Incompreensível

Ainda sobre os manuais do liceu, o ensino e o estado da língua portuguesa, talvez este mail que recebi possa contribuir para o debate:

«Caros amigos,

Os autores do livro 'e-Learning e e-Conteúdos', Jorge Reis
Lima e Zélia Capitão, editado pelo Centro Atlântico, têm o
prazer de o convidar para o seu lançamento a realizar num
espaço especial: o Silo do NorteShopping. (...)

De que trata o livro? Em resumo de e-Learning:

Com o advento da sociedade digital aparecem novos
paradigmas na área da educação e da formação, tal como a
formação ao longo da vida, como factor fundamental na
estabilidade do indivíduo no mercado de trabalho. É
fundamental conceber soluções de e-Learning que flexibilizem
o acesso aos recursos de aprendizagem (qualquer sítio,
qualquer hora) implantando estratégias pedagógicas adequadas
a uma aprendizagem mais eficaz. A qualidade e relevância dos
conteúdos de um curso de e-Learning são factores
condicionantes para o seu sucesso requerendo a compreensão
dos mecanismos subjacentes aos processos de ensino e
aprendizagem.

O livro 'e-Learning e e-Conteúdos' descreve o processamento
da aprendizagem - 'como se aprende' - e sugere modelos para
a estruturação de e-conteúdos - 'como ensinar'.

A análise de três e-cursos mostra a importância das
orientações pedagógicas relativas à aprendizagem, à
estruturação dos conteúdos e ao desenho da sua interface.

Contamos consigo no dia 14 de Outubro (terça-feira) pelas
19h00 no Silo do NorteShopping do Porto. Com os nossos
melhores cumprimentos e antecipadamente gratos pela sua
presença e apoio

Departamento de Informática
Universidade Portucalense»

Escrevi «talvez» deliberadamente: eu não percebi e-Nada.

O triunfo da vontade

Para minha sorte e descanso, acho que todos os meus amigos são fumadores - activos ou não. Talvez por isso, reconheço dificuldades relacionais com sujeitos que guardam uma distância de 300 metros ao cigarro mais próximo. São uma gente estranha, que acredita firmemente na íntima eternidade e que ocupa os tempos livres a escrever insultos ao Francisco José Viegas. Sempre que posso, evito-os. Sábado, não pude evitá-los. Ao jantar, foi-me servido um anti-tabagista encartado, que ainda por cima acumulava funções. Além de temperar o repasto com a malcriação habitual sobre o fumo, o angélico rapaz dizia-se igualmente «fanático do desporto» (entre a rapaziada saudável, o fanatismo é um modo de vida) e «fanático da reciclagem» (hélas).
Estas maravilhas da fé iam sendo disparadas contra um alvo específico, justamente a pessoa que convidara o beato e que, com elevado merecimento, sofria o suplício em silêncio. Infelizmente, a partir de certa altura, Sua Santidade aumentou o volume e eu, tendo terminado a moamba de galinha, acendido o quinto cigarro do serão e inaugurado a segunda garrafa de Cartuxa, não resisti a emitir umas opiniões avulsas - evidentemente retóricas e inúteis. À saída do restaurante, percebi quão inúteis, enquanto Sua Santidade se dirigia para um Volvo qualquer coisa oitenta (em termos de poluição, o equivalente a uns 5700 fumadores) e os conhecidos dele se despediam: «- Até à próxima, Adolfo». Adolfo?

A importância do Outro

Julgo que a reacção aos tais manuais do 10º ano tem sido excessiva. O regulamento do «Big Brother», por exemplo, pareceu-me um texto conciso, correcto e razoavelmente perceptível. O que é muito mais do que se pode dizer de boa parte da literatura portuguesa contemporânea. E quanto ao «Testenovela», também não vi motivos para a irrisão demonstrada. Qualquer palerma sabe quem é o autor de «Aparição» ou o número de cantos d’«Os Lusíadas». Mas eu próprio, que não me considero um ignorante terminal, ignoro se, na novela «Tentação», Marco António é atraiçoado por Gracinha, Renata ou Raquel. E tenho pena. Sugerir a irrelevância de conhecimentos assim é menosprezar o contributo da antropologia clássica: se, há oitenta anos, a sra. Mead mostrou o quanto podíamos aprender com os selvagens de Samoa, seria estúpido fingir, hoje, que os selvagens da Brandoa nada têm a ensinar-nos.

O JN dos Açores

O Joel Neto esclareceu tudo. Caro Joel, avise quando passar por estes lados, e considere-se convidado para um café ou um almoço. Melhor ainda: para ambos.

sábado, outubro 11, 2003

Acredite se quiser

Percebo o critério do JCD, explícito no post «Repelente». Mas por vezes sucedem coisas curiosas, da ordem do insondável. Um destes dias, aluguei um filme devido às críticas que o «Expresso» lhe dedicara, e que se resumiam a uma sucessão de bolas pretas. Por incrível que pareça, ao fim de vinte minutos carreguei no stop do dvd, enojado: o filme era realmente péssimo. Odioso. Pior que uma crónica do arquitecto. Bem, não exageremos, mas era muito mau. E agora, como é que se fica? Se uma pessoa já nem pode confiar no «Expresso», vai confiar em quê?

sexta-feira, outubro 10, 2003

Uma redundância ao almoço

Quase todos os dias, na esplanada onde almoço, vejo passar um sujeito de meia-idade que fala sozinho. À primeira vista, enganado pelo auricular que leva no ouvido, julguei que conversava ao telemóvel. Errado: a observação regular e sistemática do sujeito e respectivos monólogos permitiram-me concluir que, do outro lado do fio, não há ninguém. É só ele, que em voz alta, olhos baixos e com uma mão a agitar-se atrás das costas, proclama invariavelmente coisas do tipo:

«- Eu não quero ser atendido por fascistas nem por filhos de fascistas.»

Ou:

«- Eu não tenho medo, eu não mudo.»

E a sentença preferida:

«- Eu sou comunista!»

Hoje, vi novamente o comunista que não muda e fala sozinho, e pensei na magnífica metáfora que, quase todos os dias, atravessa a hora da minha sobremesa.

Mil vezes o Iraque

Quinta-feira de cinzas

Ouço na TSF que o debate mensal (com o PM) no Parlamento já começou. Suponho, pois, que houve tempo para limpar as marcas da festança socialista de anteontem. Fico aliviado. É que a remoção de confetti, serpentinas e beatas de cigarro não custa nada, mas as manchas de champanhe na alcatifa estavam a dar um trabalhão.

O trocadilho da semana ou Os Malefícios da Lobotomia

Carlos Magno na RTP, via «Público» (sem link):

«Estamos de novo na Idade ‘Media’. Não na Idade Média, da Inquisição, mas na Idade dos ‘Media’.»

Isto para não falar no Narciso Miranda

O meu colega de crónicas no CM, Luís Filipe Menezes, lamenta que Portugal se dê ao luxo «novo-riquista» de desperdiçar «quadros de qualidade». A título de exemplo, cita, entre outros, Martins da Cruz e Jorge Coelho.

O autarca está inconsolável

Conforme assegurou ontem o sr. Pinto da Costa, o dr. Rui Rio não terá «hipótese nenhuma» de assistir ao vivo à inauguração do novo estádio do FC Porto.

quinta-feira, outubro 09, 2003

C'était au temps où Bruxelles chantait

Como o Terras do Nunca tem recordado aos párias com pertinente insistência, completa-se hoje um quarto de século sobre a morte de Jacques Brel. Há alguns «songwriters» ou intérpretes de música popular cujos discos prefiro: Cohen, João Gilberto e Gainsbourg. Não há ninguém que eu gostasse mais de ter visto em concerto do que Brel. Que me perdoem os devotos dos álbuns (aliás sublimes): Brel é tanto para ser ouvido como contemplado. Não devido às lendas do suor e dos quilos que ele abandonava em palco, mas porque era no palco que, por definição e essência, as suas canções aconteciam em absoluto, inseparáveis do rosto e do corpo que, no sentido literal, as representava. Lugar-comum? A frase anterior, com certeza, para sermos gentis; o facto, não, como se comprova nos filmes que misericordiosamente existem.
Não sei acrescentar muito mais ao que JMF já escreveu. A título de inventário dispensável, digo só que as «minhas» canções do Brel são «Bruxelles» e «Le Moribond» (e as outras, senhor?), e que o DVD (uma caixa de três que promete o céu) encontra-se disponível desde o início do mês. Eu encomendei-o aqui, e venho insultando os correios com assíduo fulgor.

P.S. Entre os produtores, consumidores e amadores da blogosfera, há alguma testemunha de um espectáculo do Brel? É que nunca conheci criatura assim abençoada, e gostaria imenso de escutar o relato da epifania.

É o Bicho (Mau), é o Bicho (Mau)

E não é que o Rui Teixeira tem um blogue? Sucede que este particular Rui Teixeira não é juiz, mas economista, fanático dos Joy Division e possuidor da louvável mania de partilhar amizades comigo (dentro da decência, asseguro). Além disso, nunca o vi no ginásio. Local que, de resto, eu não frequento.

Errata

Não liguem ao post abaixo. Como apenas deitei uma breve olhadela aos telejornais, fui traído pelas imagens e vi o exterior do EPL onde, na verdade, estava o Parlamento - este sim, o destino do dr. Pedroso logo que libertado. Donde reformulo a pergunta: um político tem amigos, casa, família, vida própria?

quarta-feira, outubro 08, 2003

Os meus melhores correligionários

A julgar pelo imenso séquito de socialistas que esperava o dr. Pedroso à saída da prisão, é pertinente a dúvida: um político tem amigos?

Manuel (agora legitimamente) Alegre

Há três semanas, o dr. Alegre jurava habitar um país muito mais sombrio e despótico que o Portugal de Salazar. Hoje, pela tardinha, o lendário poeta falou às televisões para maldizer as «pressões mediáticas» e para louvar um sistema judicial que funciona em pleno, assim haja bom senso para saber respeitá-lo. Entre ambos os momentos, ou entre as trevas e o sol que aponta o caminho, e que eu tenha reparado, apenas sucedeu uma ligeira mudança na medida de coacção aplicada a um sujeito específico - o dr. Paulo Pedroso. Por vezes, uma andorinha (livre) faz toda a primavera.

Sic radical

Acabou agora, na Sic Notícias, um arremedo de debate sobre a demissão de Martins da Cruz. De um lado, Pires de Lima (PP); do outro, António Filipe (PCP) e o meu antigo colega João Miguel Teixeira Lopes (BE). Meia hora de aborrecimento dispensável, não fosse uma descoberta para mim inesperada: a longo prazo, a existência do BE não representa um perigo para o Partido Comunista, mas um factor de apoio e integração.
Explico: comparado, assim de chofre, com as alucinações sucessivas que o João Miguel reproduz, António Filipe passa por um sujeito razoável, membro de uma força política algo moderada, quase sensata e praticamente democrática. Enquanto um recorria à habitual catilinária de Boaventura S.S. contra as sociedades abertas, o outro - imagine-se - exibia sinais de reconhecimento do Estado de direito; enquanto um disparava sentenças sumárias e esdrúxulas, que condenam a administração pública em peso, o outro - pasme-se - cingia-se, em boa medida, aos factos.
Foram necessárias três décadas sobre o 25 de Abril para que, ao menos durante uns instantes, eu escutasse um alto responsável comunista com, digamos, naturalidade. Agradeço ao João Miguel, ao dr. Louçã e ao Bloco em geral por, inadvertidamente, me abrirem uma janela que eu julgara para sempre obstruída. Amanhã vou telefonar à minha cunhada.

terça-feira, outubro 07, 2003

E enfim...

...Martins da Cruz demitiu-se. Não se viam alternativas, dado o cândido comportamento do indivíduo em toda a história da «excepção». Tão cândido quanto as reacções daqueles que agora pretendem atribuir ao compadrio uma espécie de filiação ideológica - naturalmente «à direita». Suspeitava-se: por definição teórica e marca de carácter, certa esquerda não comporta nem concebe o favoritismo, a corrupção ou, afinal, qualquer indício da vil essência dos homens. Uma subtil característica que tem dificultado, desde há séculos, os contactos de certa esquerda com a própria humanidade.

...then we take Paris

No imprescindível Fumaças (notar o novo link), o João Carvalho Fernandes brandamente acusa-me de tê-lo acusado «de ser um agente ao serviço do Chirac e inimigo dos EUA». Não me recordo de semelhante coisa, mas confesso que acho graça à foto que ilustra o post, e que não veria grandes cataclismos na concretização da ameaça em causa. Por mim, os americanos podem tomar Paris à vontade. Desde que - e isto é fundamental - não entrem nas cozinhas: nos EUA, uma omeleta decente ou um fois gras sério são mais difíceis de encontrar que um islâmico na Women’s Lib.

Divulgação

O Joel Neto é redactor do Correio da Manhã, o jornal em que eu, vai para cinco anos, escrevo umas crónicas. O Joel Neto é também um dos nomes mais conhecidos da blogosfera, espaço que partilhamos há dois meses. Ainda assim, nunca trocamos um aperto de mão, um telefonema, um mail, um insulto. É possível que o Joel Neto não simpatize com os meus artigos e, por inerência, não goste de mim. Não sei. Sei que a recíproca não tem de ser verdadeira, donde divulgo com o maior prazer o blogue que ele criou com dois amigos:

O Rosto Com Que A Europa Fita

Arnold e Ronald

É suposto escrever alguma coisa sobre as eleições californianas? Desculpem, mas não contribuo. Além do meu conhecimento do tema quase se limitar às reportagens do «Daily Show», acho que já existem suficientes graçolas envolvendo a candidatura do sr. Schwarzenegger e a respectiva carreira cinematográfica. Claro que, mesmo nunca tendo visto um filme do homem, procuro imaginar a causa das piadas e percebê-las. Como manda a correcção política, é evidentemente grotesca a possibilidade de um actorzeco de fitas populares chegar a governador da Califórnia. Ideia mais absurda e delirante, só pensarmos que o actorzeco, anos depois, seria eleito para a Casa Branca, recuperaria uma economia em sufoco e exterminaria sumamente a União Soviética e o comunismo internacional. Vale que o sr. Schwarzenegger nasceu na Áustria, o que obsta à empreitada: os tontos dos americanos são capazes de tudo.

Relatório clínico

Agradeço ao Jorge, ao Carlos, ao JCF, à Aurora, ao Barman e ao Mário a solidariedade, as sugestões e os votos de melhoras. De resto, e embora não signifique muito, estou quase devolvido à forma original, obrigadinho. O Ben-u-ron, esse paracetamol de aura hebraica, tem-se revelado de vasta utilidade.

segunda-feira, outubro 06, 2003

AG explica medicina a si próprio

Ligeira diminuição do consumo de cigarros? Súbito apetite por chá preto e sumos naturais? Tonturas? Arrepios inexplicáveis? Vontade de ocupar a tarde de Sábado com três mantas e cinco episódios do «Love Boat» na Sic Gold? Errância na produção bloguística? Exacto: estou com gripe. Desejos de melhoras serão bem-vindos. Mas não tanto quanto contributos espirituais em numerário, cheque, transferência bancária ou lenços Renova (Mentol), ao cuidado da Fundação Homem a Dias de Molho, s.f.f.

...agradecer a todos quantos tornaram isto possível...

Depois de, em diversas ocasiões, terem atribuído ao Homem a Dias os prémios de «melhor blogue» e «melhor post», os rapazes do Mata-Mouros começam a estender o seu imenso e habitual bom senso a este particular domínio: na semana que passou, fiquei apenas com a «melhor frase», ex-aequo com o Realidade Virtual e é se quero. Quero, pois. E, mais uma vez, obrigado.

A filha e o enteado

Em Maio de 2002, o Estado português adoptou oficialmente o sr. Anan Tanjeh, membro das Brigadas de Al-Aqsa e um dos invasores da igreja da Natividade, em Belém (lembram-se?). Na altura, e pelo menos em termos públicos, foi o dr. Martins da Cruz a assumir o lindo gesto, que justificou com base em «razões humanitárias». Na altura, e pelo menos em termos públicos, ninguém condenou tais razões, ninguém pediu a cabeça do dr. Martins da Cruz, e poucos estranharam sequer a extraordinária interpretação do conceito de «terrorismo» elaborada pelo nosso MNE. Este humanitário consenso valeu ao sr. Tanjeh, desde o início da sua temporada entre nós, beneficiar do apoio da Cruz Vermelha, de livre circulação e de «protecção especial» - o que é o mínimo que um mercenário pode esperar.
Hoje, eu francamente ignoro o destino do sr. Tanjeh. Mas, caso continue por cá, gostaria imenso que o descobrissem numa faculdade de Medicina, inscrito mediante regime excepcional e despacho. Talvez assim, finalmente, houvesse motivo para devolver o sujeito à procedência e demitir um ministro que, mais do que representar o País, envergonha-o.

sábado, outubro 04, 2003

Génio adiado

E pronto, Luciano: não temos sorte nenhuma.

Génio bucólico

Pelos vistos, a referência à Virginia Astley acordou as memórias de parte significativa da blogosfera. Depois do Aviz e do Retorta, e que eu tenha notado, o Alfacinha, o Terras do Nunca e o Cibertulia também voltaram a sonhar em simultâneo pastos e ribeiros, aldeias e rebanhos, cotovias e compotas. Detesto a palavra, mas há nisto qualquer coisa de «geração», não há?

P.S.:
1) Miseravelmente, a capa do «From the Gardens...» já não é a que por aí circula.
2) O Terras do Nunca deu o mote: o Brel está a pedir evocações várias.

Génio feliz

E a Rosie Thomas passou pelo Porto. Não sei se as minhas prévias e continuadas referências ao concerto mobilizaram algum elemento da comunidade bloguística. É que, por incrível que pareça, os blogueiros ainda não se distinguem dos outros mortais a olho nu.
Quanto à Rosie propriamente dita, distingue-se com facilidade: é uma coisinha pequenina e risonha, que usa a voz do Pato Donald para falar e a da Cristal Gayle para cantar. Se fala, serve-se do nonsense «infantil» à Andy Kaufman («Eu sempre mudei de roupa interior a cada três dias, até me dizerem que não era normal. Weird, Rosie. Ih, ih, ih.»). Se canta, arrepia a espinha. E ontem cantou os dois álbuns quase na íntegra, incluindo algumas da melhores canções que têm visitado estes ouvidos («Bicycle Tricycle» ou «Two Dollar Shoes», por exemplo).
Óbices? O calor no apinhado bar «O Meu Mercedes...»; o idiota ao meu lado que sabia as letras todas de cor e fazia questão em demonstrá-lo; a ausência da banda de acompanhamento.
Mesmo assim, não houve baixas a lamentar. Entre os grandes autores de música pop actual (também não são muitos), Rosie Thomas é dos raros cuja obra, passe a discreta (mas óbvia) melancolia, induz um sentimento de felicidade. Tão feliz eu estava que me decidi - caso inédito - pedir um autógrafo à menina. De brinde, ganhei um minuto de conversa e dois beijinhos. Não fui às cegas: logo no início do espectáculo, a Rosie proclamara que gosta de beijar e abraçar as pessoas - apetência que, na América, ela considera mal compreendida. Pobres americanos.

sexta-feira, outubro 03, 2003

A excepção é a regra

O sr. ministro dos Negócios Estrangeiros é o sujeito que, sem se rir, negou o terrorismo do Hamas. O sr. ministro do Ensino Superior foi um dos ideólogos da Prova Geral de Acesso, bizarria que me facilitou a entrada na universidade, privando-me de cinco anos dedicados ao auto-conhecimento e à contemplação do Bem. Só por isso, quero que ambos se lixem. Mas, citando Luís Delgado, há que ter calma e esperar por mais desenvolvimentos sobre o caso da «excepção». Por exemplo, hoje o «Público» titula que a «Académica de Coimbra exige a demissão» do dr. Lynce. Ora trata-se de uma reivindicação apressada, principalmente antes de sabermos a posição oficial da União de Leiria e do Belenenses.

À atenção do Francisco

Eu comprei o «From the Gardens...» na Jo Jo’s Music, rua de Cedofeita, Porto (junto com os bilhetes para a Rosie Thomas, que, insisto, toca hoje no Mercedes). Se estiver pela capital, julgo que se pode encomendar as cópias que se quiser aqui. Quanto à pirataria, por amor de Deus, Francisco: não me ofenda (mas também se arranja).

quinta-feira, outubro 02, 2003

Bom fim de semana

Amanhã, este rapaz regressa às páginas do «Independente».

E ainda a Virginia Astley

O Mário Filipe Pires corrige-me:

«Eu tenho o vinil (do «From the Gardens Where We Feel Secure»), mas já tinha comprado o cd na FNAC há uns meses muito largos, nunca mais o tinha visto, assim como nunca consegui comprar os Young Marble Giants nem os Pig Bag, porque estupidamente nunca comprei os lp's!»

[Mário: Também tenho o vinil (não tenho é agulha decente no gira-discos), mas era capaz de jurar que do «From the Gardens...» em cd só havia uma edição japonesa, editada e esgotada há muitos anos. O que eu tenho andado a perder...]

Ainda o Punch-Drunk Sandler

O Bruno informa:

«Vi este fim-de-semana o Punch-Drunk Love e queria concordar consigo em relação à qualidade do filme. Embora não me tenha prevenido com um charro, fiquei siderado com a representação de Adam Sandler, com a complexidade da sua personagem, e com a composição de toda a película. Talvez por hábito de demasiadas narrativas medievais, o romantismo de uma namoro arranjado sempre me pareceu um desafio mais difícil do que relação que rompe barreiras e preconceitos sociais. Coisa curiosa, fiquei tentado a telefonar para uma linha erótica, é que apesar dos incidentes daí advindos na trama, este filme provou que nem todas as telefonistas são mulheres obesas e desdentadas.»

E a Rita Relvas regressa para nos sossegar:

«A campanha Ofereçam um Dvd à Rita já está a dar os seus frutos. Se calhar ainda antes do natal vejo o Punch-Drunk Love».

Ou estou, mais uma vez, enganado?

Agradeço comovido os contributos da Charlotte e do João R. para a inclusão de texto em itálico no Homem a Dias. Ambos se revelaram esclarecedores. Infelizmente, percebi que o itálico tem um preço - a mudança do tipo de letra - que eu ainda não estou preparado para pagar.

quarta-feira, outubro 01, 2003

Carlos: eu sei

Até hoje eu dizia: mostrai-me um sujeito que vá de Évora a Lisboa propositadamente para comprar o dvd do «Ghost World» e eu mostro-vos um monumento ao bom senso. Até hoje. Hoje, ele está.

She rests her case

Ontem, em entrevista na NTV ao Francisco José Viegas, a sra. Margarida Rebelo Pinto, entre outras observações, lamentou a falta de amor-próprio dos portugueses e comparou os seus livros às canções de Pedro Abrunhosa. Fiquei rendido: raramente coincidem numa só pessoa a capacidade analítica, a autocrítica e uma doentia humildade.

Roteiro cultural

Moirama blogueira do meu país: porque não ides vós ao concerto da Rosie Thomas, hoje, no encantador Teatro da Luz, em Carnide (wherever it may be)? Acaso conheceis melhor programa que ouvir a autora do melhor álbum pop deste século («When We Were Small»)? No Porto, sexta-feira, a enorme sala do Meu Mercedes É Maior Do Que O Teu promete enchente.

Já agora: está finalmente disponível em cd o «From the Gardens Where We Feel Secure», da Virginia Astley. Quando foi editado pela primeira vez, aí há uns vinte anos, era banal (MEC incluído) classificá-lo como a obra mais perfeita da história da música popular. Óbvio excesso, mas que é uma coisinha linda, é.

Os letreiros do Polis que me perdoem, mas faltam 22 dias, cinco horas e quinze minutos para o concerto do João Gilberto no Coliseu do Porto.

Vêem? É este lindo serviço

Perguntam-me a razão do Homem a Dias não publicar textos em itálico. Eu também me pergunto o mesmo. A diferença é que eu sei a resposta: porque o itálico que o template oferece é horrendo e quase imperceptível. Se houver esperança, elucidem-me, pelo amor de Deus. Ao contrário daquilo que a Charlotte, com vasta irresponsabilidade, apregoou, eu não sou exactamente um génio informático.

Ao menos uma bengalada, s.f.f.

Sobre a questão imediatamente abaixo, só o meu semi-conterrâneo Luís compreende a angústia que sinto. Se calhar, caro Luís, o meu espírito aderiu mesmo às «seitas» e não me disse nada. É possível, não nos temos visto amiúde.