From the gardens...
Com que espírito Sísifo, empoleirado, contemplava a pedra caída no sopé da montanha? Provavelmente com alegria, se comparado com o que eu sinto sempre que regresso de Vimioso. Sobretudo porque, bem vistas as coisas, equilibrar um calhau no pico de um monte também não seria o cúmulo do deleite. Ignoremos as contingências filosóficas, a logística, o castigo e suponhamos que ele cumpria a tarefa: so what? Meia dúzia de telegramas a felicitarem-no e vamos lá a descer que segunda-feira é dia de trabalho. Nada de especial, portanto.
Pelo menos, nada parecido com a beatitude que se colhe no Nordeste, em que a casa é linda, a paisagem é linda, a comida pertence ao ramo da metafísica e os dias são tão magníficos que parecem conter dentro deles dias ainda melhores (a imagem não faz qualquer sentido, mas descontem-me a pieguice – toquem, violinos, toquem).
Pois é, voltei à barbárie. E estou com uma raiva impossível (impossível o tanas). Dou um passo no chiqueiro urbano e lembro-me das caminhadas matinais pelos outeiros. Paro num semáforo e finjo-me naquele rio silencioso, tão silencioso que se ouve baixinho o ocasional Airbus em rota de cruzeiro. Sento-me num restaurante e apetece-me insultar o dono e exigir o javali do Solar Bragançano e o milho doce com puré de castanhas do D. Roberto. Chego a casa e não há maneira de evitar querer estar na minha casa de facto, que não está voltada para a Petrogal nem tem vizinhos a menos de cem metros. Vejo o rosto dos meus vizinhos e quase choro de pensar que nestas férias encontrei uma raposa, dúzias de águias, grosas de rãs, cabritos do Douro e um esquilo, que me saltou à frente num trilho de pastores. Ligo a televisão e, mais rápido que o tempo que demora a dizer-se “telejornal”, evoco as noites mornas no alpendre, com os amigos, o queijo, o vinho, as luzes das aldeias muito ao longe e o céu imenso e iluminado de constelações. E nem me falem da lagoa de Sanabria, ali a norte do Montesinho, onde, apesar dos turistas (como eu, acho), procurando bem sobra sossego e vastidão.
Ai, Sísifo, Sísifo: o que custa é descer o IP4 e carregar a vidinha.
Pelo menos, nada parecido com a beatitude que se colhe no Nordeste, em que a casa é linda, a paisagem é linda, a comida pertence ao ramo da metafísica e os dias são tão magníficos que parecem conter dentro deles dias ainda melhores (a imagem não faz qualquer sentido, mas descontem-me a pieguice – toquem, violinos, toquem).
Pois é, voltei à barbárie. E estou com uma raiva impossível (impossível o tanas). Dou um passo no chiqueiro urbano e lembro-me das caminhadas matinais pelos outeiros. Paro num semáforo e finjo-me naquele rio silencioso, tão silencioso que se ouve baixinho o ocasional Airbus em rota de cruzeiro. Sento-me num restaurante e apetece-me insultar o dono e exigir o javali do Solar Bragançano e o milho doce com puré de castanhas do D. Roberto. Chego a casa e não há maneira de evitar querer estar na minha casa de facto, que não está voltada para a Petrogal nem tem vizinhos a menos de cem metros. Vejo o rosto dos meus vizinhos e quase choro de pensar que nestas férias encontrei uma raposa, dúzias de águias, grosas de rãs, cabritos do Douro e um esquilo, que me saltou à frente num trilho de pastores. Ligo a televisão e, mais rápido que o tempo que demora a dizer-se “telejornal”, evoco as noites mornas no alpendre, com os amigos, o queijo, o vinho, as luzes das aldeias muito ao longe e o céu imenso e iluminado de constelações. E nem me falem da lagoa de Sanabria, ali a norte do Montesinho, onde, apesar dos turistas (como eu, acho), procurando bem sobra sossego e vastidão.
Ai, Sísifo, Sísifo: o que custa é descer o IP4 e carregar a vidinha.
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