Zelda looks lonely
I
Eu desconfiei que o sr. Merritt era um génio quando ouvi, em estreia pessoal, Reno Dakota:
Reno Dakota there's not an iota of kindness in you
you know you enthrall me and yet you don't call me
it's making me blue
pantone 292
Eu soube que o sr. Merritt era um génio quando confirmei que o pantone 292 era, de facto, uma variedade de azul.
II
À primeira vista, um espectáculo dos Magnetic Fields é um paradoxo. À segunda e terceira vistas, também. Como garante um amigo meu, um espectáculo consiste em “coisas a explodir, automóveis sobre as árvores e gajas nuas em correria”. Ontem, na Aula Magna, não houve exactamente isso: houve um quarteto de ukelele, violoncelo, guitarra/banjo e piano, onde a única movimentação visível era a do braço esquerdo do sr. Merritt, destinada a tapar o ouvido do mesmo lado ao mínimo ameaço de aplausos. Parece pouco? Foi demasiado. Quando, já o concerto ia entradote, os outros três músicos pararam para o sr. Merritt interpretar quase sozinho A Pretty Girl is Like (julgo), com a voz nenhuma que tem e com a técnica de instrumentista que não possui, revelou-se o que devia ser óbvio: aquelas canções são tão boas que se pode despi-las, até desfolhá-las como o Paulo de Carvalho fez à moça que viera em flor nos idos de 1974, e, ainda assim, elas resistem sem um espirro. O único problema do desgraçadamente prodigioso songbook do sr. Merritt é suscitar uma vontade quase irreprimível de atirarmos pela janela fora toda a pop anglo-saxónica dos últimos quarenta anos, e só pararmos em Brian Wilson e Phil Spector, os últimos a fazer e produzir canções comparáveis. Estes atafulhavam-nas com o que podiam; ao vivo (digamos), o sr. Merritt tira-lhes tudo e deixa um fio, o suficiente para que se lhes ouça dez segundos e se diga, maravilhado: que maravilha. Faltou alguma coisa? Não querendo passar por ganancioso, eu teria apreciado uma Zebra.
III
E um imprescindível "obrigado" ao Ricardo, o melhor anfitrião de Lisboa, um sábio e um amigo. Mais: o Ricardo contemplou o concerto da primeira fila porque mereceu, ao contrário de outros que me recuso nomear (este e este), os quais, entretidos a discutir as respectivas alturas, se desleixaram a ponto de só conseguirem bilhetes para as berças. E depois eles mal viram o espectáculo e ninguém os viu a eles.
Eu desconfiei que o sr. Merritt era um génio quando ouvi, em estreia pessoal, Reno Dakota:
Reno Dakota there's not an iota of kindness in you
you know you enthrall me and yet you don't call me
it's making me blue
pantone 292
Eu soube que o sr. Merritt era um génio quando confirmei que o pantone 292 era, de facto, uma variedade de azul.
II
À primeira vista, um espectáculo dos Magnetic Fields é um paradoxo. À segunda e terceira vistas, também. Como garante um amigo meu, um espectáculo consiste em “coisas a explodir, automóveis sobre as árvores e gajas nuas em correria”. Ontem, na Aula Magna, não houve exactamente isso: houve um quarteto de ukelele, violoncelo, guitarra/banjo e piano, onde a única movimentação visível era a do braço esquerdo do sr. Merritt, destinada a tapar o ouvido do mesmo lado ao mínimo ameaço de aplausos. Parece pouco? Foi demasiado. Quando, já o concerto ia entradote, os outros três músicos pararam para o sr. Merritt interpretar quase sozinho A Pretty Girl is Like (julgo), com a voz nenhuma que tem e com a técnica de instrumentista que não possui, revelou-se o que devia ser óbvio: aquelas canções são tão boas que se pode despi-las, até desfolhá-las como o Paulo de Carvalho fez à moça que viera em flor nos idos de 1974, e, ainda assim, elas resistem sem um espirro. O único problema do desgraçadamente prodigioso songbook do sr. Merritt é suscitar uma vontade quase irreprimível de atirarmos pela janela fora toda a pop anglo-saxónica dos últimos quarenta anos, e só pararmos em Brian Wilson e Phil Spector, os últimos a fazer e produzir canções comparáveis. Estes atafulhavam-nas com o que podiam; ao vivo (digamos), o sr. Merritt tira-lhes tudo e deixa um fio, o suficiente para que se lhes ouça dez segundos e se diga, maravilhado: que maravilha. Faltou alguma coisa? Não querendo passar por ganancioso, eu teria apreciado uma Zebra.
III
E um imprescindível "obrigado" ao Ricardo, o melhor anfitrião de Lisboa, um sábio e um amigo. Mais: o Ricardo contemplou o concerto da primeira fila porque mereceu, ao contrário de outros que me recuso nomear (este e este), os quais, entretidos a discutir as respectivas alturas, se desleixaram a ponto de só conseguirem bilhetes para as berças. E depois eles mal viram o espectáculo e ninguém os viu a eles.
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