sexta-feira, dezembro 31, 2004

Agradecimento um nadinha xenófobo

A Ana enviou-me (e ao Francisco) um cartão de boas-festas com o pedaço de um texto da agenda Assírio e Alvim (1997):
Depois, passear sozinho nas ruas da aldeia: a luz e as vozes que saem das frinchas das portas. Cá fora muito frio sob o céu mais estrelado do ano. Silêncio.
Não terá sido por acaso. Os transmontanos sabem que é mesmo assim, e que mesmo assim é a melhor coisa do mundo. Passear sozinho nas ruas da aldeia, quero eu dizer. Muito em breve voltarei a fazê-lo. Ao frio, que de todas as temperaturas é a que mais gosto.

terça-feira, dezembro 28, 2004

Silent nights

Leio prosa publicada. Com propósitos mais ou menos apologéticos, meio mundo comenta o seu Natal. As compras. O convívio. A árvore. A ceia. O “espírito”. Ora pois. Tal como os vagabundos, os velhos, os solitários e, genericamente, todos os destinatários da mensagem televisiva do dr. Santana, eu não frequento nada disso. Nada. Os motivos é que são distintos, para infelicidade daqueles, para meu imenso alívio.

PS: Embora haja quem prefira a ocultação, a verdade é que no dia 25 passei longas horas em casa deste particular prosador, a ver a League of Gentlemen e a jogar Pro Evolution Soccer. Saí pela noitinha, convertido à série, enquanto outros, de tão humilhados, ficaram (espero) convertidos à minha mestria no futebol virtual. E não, para grande desgosto da política, não a mencionámos uma única vez.

O John Gray é uma besta

É compreensível que a mais recente mensagem de Bin Laden suceda imediatamente ao sismo na Ásia. Surgir nas ruínas da calamidade dá sempre uma vaga ideia de que se foi responsável por ela. Não é preciso ter assessores de marketing particularmente brilhantes: o fundamental é contar com um público assaz imbecil, e esse, à semelhança da barba do sr. Bin Laden, é mato.
Estranho em tudo isto é o facto de a mensagem chegar à Al-Jazira numa cassete de áudio. Ainda há cassetes dessas? Os psicopatas são alérgicos aos meios digitais? A continuar assim, qualquer dia as prédicas do faquir serão entregues em placas de argila talhada. É esta a modernidade da Al-Qaeda?

quarta-feira, dezembro 22, 2004

Lacuna legislativa

Segundo entendi, depois do parecer do TC, o dr. Sampaio devolveu ao parlamento a pergunta sobre a Constituição Europeia. Naturalmente, o presidente também não a terá percebido e escolheu uma possibilidade ao seu dispor, prevista na lei. Óptimo. Mas a quem podemos nós devolver as centenas e centenas de discursos do dr. Sampaio, igualmente incompreensíveis e - fosse justo o mundo - igualmente inconstitucionais?

segunda-feira, dezembro 20, 2004

Kill Quentin

Uma multidão de leitores (bem, três, e um deles é o Ricardo) interroga-me sobre a ausência da secção Filmes da minha fundamental tabela de prémios. Muito simples, pás: porque não vi cinco filmes de 2004 (ou por cá exibidos em 2004) de que gostasse. Para que conste, gostei muito de Lost in Translation e de The Village (estou com o Carlos), e gostei de Capturing the Friedmans. Que me lembre, mais nada. O que é que queriam, o Kill Bill?

sexta-feira, dezembro 17, 2004

And now...

“O cinema interessa sobretudo quando provoca uma de duas reacções: fazer rir ou fazer chorar.”
Naturalmente, foi o Ricardo Gross quem escreveu isto, e, de tão sensata, a norma aplica-se a todas as formas da arte. Alegrou? Comoveu? Se sim, muito bem; se não, é passar à frente que no ramo do lusco-fusco não vai a lado nenhum.
Vem o atrás exposto a propósito dos despropositados Prémios Homem a Dias/2004, cerimónia a realizar eventual e intermitentemente, ou seja, quando os laureados quiserem aparecer cá em casa para um conhaque. A designação, porém, segue de imediato, segundo os critérios já referidos.

CD

1) Get Away From Me, Nellie Mckay
2) I, Magnetic Fields
3) Humanos
4) Van Lear Rose, Loretta Lynn
5) Sings Greatest Palace Music, Bonnie Prince Billy

Livro*

1) Rembrandt's Jews, Steven Nadler (saiu no final de 2003 mas quero que se lixe)
2) The Last Great Quest: Captain Scott's Antarctic Sacrifice, Max Jones
3) Fathers and Sons: The Autobiography of a Family, Alexander Waugh
4) Outra Opinião: Ensaios de História, Rui Ramos
5) Kafka, Nicholas Murray

(Prémios Extra
- Melhor prefácio de um livro do João Pereira Coutinho sem ser o prefácio do MEC: o meu, em Vida Independente;
- Melhor texto meu incluído numa colectânea organizada pelo Fernando Alvim: o meu, em 365: Os Primeiros Anos)

DVD

1) One from the Heart
2) Seinfeld (Séries I, II e, pasme-se, III)
3) Gato Fedorento (Série Fonseca e o resto que tirei da net e gravei num DVD)
4) Lost in Translation
5) Michael Palin Collection

Restaurante

1) Solar Bragançano (hors-concours, por todos os motivos)
2) D. Roberto (Gimonde, Bragança)
3) Aquele em Budapeste (cujo nome não recordo mas que tinha uns fígados de ganso divinais e além disso fica sempre bem mencionar um restaurante de Budapeste numa tabela destas)
4) Fialho (Évora, pelos eventos que proporciona)
5) Marisqueira de Matosinhos (prémio adicional pela originalidade do nome)

Blogue*

1) A Causa foi Modificada (descontando a ligeiríssima obsessão por futebol)
2) Babugem
3) Contra a Corrente
4) Aviz
5) Rua da Judiaria

(*A exclusão do Bomba Inteligente foi uma óbvia – e baixa – represália pelo facto de a Charlotte não ter incluído o Homem a Dias no respectivo top.
Adenda: a justificativa da Charlotte foi tão justa, superior e comovente que me encheu de remorsos. E ainda por cima os fígados de ganso. Merda.)

terça-feira, dezembro 14, 2004

Sound and fury

O Tulius Detritus armou um escabeche contra mim porque, alegadamente, eu deslinkei (ou deslinquei?) o Memória Inventada. Meu caro, eu nunca deslinko ninguém deliberadamente, a não ser às vezes. Não foi o vosso caso. Sucede apenas que um blogue de cariz doméstico encontra-se em arrumação permanente, e alguma coisa perde-se sempre no exercício. Agora, foi o MI; de tempos a tempos, sou eu próprio. Não é grave. Nada é grave, excepto a morte, o brutal declínio dos restaurantes matosinhenses e a obsessão dos U2 em lançarem discos.

segunda-feira, dezembro 13, 2004

Pedido de ajuda

Cavalheiro, 35 anos, situação financeira estável, olhos verdes... Não, estou a brincar. A história é a seguinte: todos os domingos, debaixo da crónica de António Barreto no "Público", há sempre um borrão a negro com uns dizeres sem nexo. À distância, poderia parecer um cartoon, mas não existe exactamente um desenho e o esboço de uma piada encontra-se com mais facilidade nos Batanetes. Como nunca na vida li qualquer referência ao facto, pergunto: é alucinação minha? É defeito recorrente dos meus exemplares? Caso contrário, pergunto outra vez: o que é aquela merda?

Promessa de campanha

O Jerónimo de Sousa convenceu-me: estou contra o voto útil. Como o voto inútil é, por definição, uma patetice, no dia 20 de Fevereiro ficarei, muito provavelmente, em casa.

terça-feira, dezembro 07, 2004

E agora, por ocasião do seu 80º aniversário, a minha homenagem a Mário Soares:

A solução final, perdão, ideal

Mal que pergunte: não era possível dissolver o Parlamente (hoje sinto-me muito eanista) sem convocar eleições? A Constituição não prevê a possibilidade de uma pausa? O direito ao descanso é ou não é uma conquista de Abril?

Um mau governo merece péssimo fim

Ontem, o Governo afastou o director-geral adjunto do SIS e a esquerda exigiu explicações. Há oito dias, o dr. Sampaio afastou o Governo e ninguém exige coisa nenhuma, está tudo bem, ficamos assim que para a próxima pago eu.

sexta-feira, dezembro 03, 2004

É triste e é verdade

Nunca tão belo panegírico foi gasto com tema mais vil.