quarta-feira, fevereiro 25, 2004

Dito de outra maneira (ou o melhor post de sempre de hoje):

«Mas o que me chateia é que, ao falarmos tanto da ficção dos Gibson, estamos a contribuir para o seu sucesso. Para que mais pessoas o vejam. (...) Nem toda a gente é parva, é certo, mas há uma imensa parte que o é. Se já é difícil, nos dias de hoje, acabar com os preconceitos de antanho em relação aos judeus, não ajuda nada deitar mais achas para a já imensa fogueira anti-semita que grassa por este mundo fora.
(...) É que esta questão não é entre católicos e judeus: é entre doentes mentais e gente sã.
E mais não digo porque, ao contrário do Nuno Guerreiro e do Francisco José Viegas, tendo a perder a calma, e a educação, com qualquer filho da puta anti-semita. E já falei de mais.»

Sem comentários

Entre vasta polémica, estreia-se hoje nos EUA o filme de Mel Gibson sobre a morte de Jesus Cristo. Não me meto. Jesus foi um entre os muitos milhões de judeus assassinados, num exercício anterior a Ramsés II e que se prolonga animadamente até hoje. Outros judeus, discutivelmente melhores, decerto igualmente humanos, morreram pela ‘morte’ desse particular judeu e pelo que calhou sem que se ouvisse um pio de indignação. Pelo contrário. O tema fede.
E o tema atinge a mais absurda irrisão quando, no centro do ‘debate’, está uma figura insignificante como Mel Gibson, filho de um católico doido, actor miserável e, a julgar por vinte minutos de «Braveheart», realizador com imensas aspas.
Que o ‘filme’ estreie em paz. Como alguém já disse, o anti-semitismo não precisa de ser alimentado. A idiotia na Terra também não.

segunda-feira, fevereiro 23, 2004

A blogosfera e meia está furibunda

A Charlotte é perfeita, excepto nas preferências audiovisuais: odeia «The Office» e achou «Lost in Translation», grrrr, ‘chocho’.
Carla, se depois disto me disseres que não apreciaste a rábula do MST na TVI, eu juro que volto a ler textos do Pipi em público.

sábado, fevereiro 21, 2004

Marina Mota vai a Gaza

O Carlos viu. Eu também vi MST - o sr. Tavares, não o Movimento dos Sem Terra - interpretar (?) um arrumador (?) na gala (?) da TVI. É tarde para conversas. Limito-me a garantir que o homem envergava uma rodilha fedayin e que representa tão bem quanto escreve.

sexta-feira, fevereiro 20, 2004

Acto de contrição

O senhor MST - o artigo está no «Público» e quero que o link se lixe - terá muita, muita vergonha se o dr. Santana chegar a presidente da República. Por concordar com o supracitado romancista das erratas, e deixar a opinião registada no «CM» de hoje, a minha vergonha é ainda maior.

No nos callaran!

E este, lamento, também.

A luta continua!

Este post serve apenas para marcar presença e minorar o domínio da esquerda blogosférica.

quinta-feira, fevereiro 19, 2004

Via Intermitente:

Em Quito, depois de um 'ceviche' misto, o escritor José Saramago afirmou que «a fome é a obscenidade máxima» e que todos «deveríamos sentir-nos insultados com o facto de que há pessoas com fome.» E é. E há. Eu, que não ponho nada à boca desde a hora de almoço, sou só um exemplo. Mas não queria ofender ninguém.

quarta-feira, fevereiro 18, 2004

Duas palavrinhas

O Comité Internacional da Cruz Vermelha está preocupado com o impacto do Muro da Cisjordânia na vida de muitos ‘palestinianos’. Talvez o Muro os impeça de desenvolver livremente os passatempos que tanto apreciam e isso naturalmente aborreça a Cruz Vermelha, não sei. O ponto não é esse. Interessante é que a opinião da Cruz Vermelha acerca de muros e fortificações é algo volátil.
Em finais de 1943, uma delegação dessa estimada instituição visitou o gueto de Terezin, 60 km a norte de Praga. Por Terezin, um entreposto no caminho para Auschwitz, passaram cerca de 155 mil prisioneiros, quase todos judeus, vindos do protectorado da Boémia e Morávia, da Áustria e da Alemanha, da Eslováquia, da Holanda e da Hungria (etc.). 35 mil morreram antes da deportação para Leste; 83 mil morreram depois.
Uma sessão de cosmética - prévia à visita mas que não ocultou as paredes dos fuzilamentos, os crematórios e os (tentados) pedidos de auxílio dos detidos -, chegou para convencer os representantes da Cruz Vermelha de que, passe as ‘dificuldades inerentes à guerra’, os judeus de Terezin eram ‘dignamente tratados’.
A profundidade de análise, de que aqui se lembra um mero exemplo entre o vasto e nobre currículo da Cruz Vermelha, apenas surpreende quem não reparar no nome. São duas palavrinhas. São só duas palavrinhas.

segunda-feira, fevereiro 16, 2004

Pipi no Porto: subsídios para uma análise

1) O momento alto da noite foi, evidentemente, alcançado pela minha leitura dos textos do Pipi: até então, nunca ninguém conseguira retirar - no sentido de expulsar, fazer sumir - toda a graça dos ditos.

2) Se pudesse, atirava a culpa do sucedido para cima de um jantar deglutido à pressão devido aos compromissos horários. Infelizmente, o João participou nesse jantar e saiu-se para lá de bem.

3) Dos blogueiros presentes, e que eu não conhecia, apenas se me revelaram a Papoila, o Senhor Carne e o Luís Rocha, meu caríssimo conterrâneo (bom, mais ou menos - o conterrâneo, não o caríssimo).

4) Outros, como o Rui, do Cataláxia, passaram mais discretamente pelo evento cultural. O Rui, aliás, lamenta que as pessoas se interessem mais por sexo, ainda que literário, do que pela Política Agrícola Comum, mesmo se literária. Não é o meu caso, acredite: a mim, quem me tira a PAC, tira-me tudo. E não sou agricultor.

5) Da Charlotte (e do Carlos Quevedo), recuso-me a falar pelo exacto motivo a que ela já aludiu no Bomba. Leiam-no e garanto-vos que não haverá muitas circunstâncias em que a recíproca seja tão verdadeira.

6) O desgraçado do Bichomau, quis-me parecer, concentrou todas as atenções da (escassa mas valiosa representação) da blogosfera feminina. É assim mesmo, Rui, e acrescento: raios te partam.

7) No rescaldo, a Papoila escreveu que eu tenho um ‘olhar meigo’ e um ‘penteado assim’. Lá que ela me arruíne de vez a reputação, vá que não vá, mas ‘um penteado assim’? Minha cara, peço-lhe um esclarecimento: que espécie de penteado queria que eu tivesse?

sexta-feira, fevereiro 13, 2004

Ser velhinho neste mundo

Estourou a polémica no lar de idosos Flor de Abril. Justamente quando Mário Soares (97 anos), utente externo, ganhava a simpatia das velhinhas da hora do lanche, que o viam já como um exemplo de vigor antifascista, o veterano Vasco Gonçalves (106 anos), ocupante do quarto 11-C, irrompeu pela cantina lembrando em voz alta as inclinações contra-revolucionárias do sr. Mário.
Chocada pelas insinuações, a dona Deolinda (86 anos), frequentadora do Centro de Dia e antiga activista do SAAL, entrou em estado cataléptico, levando a que, desde há algumas horas, uma equipa de torneiros mecânicos tente separar-lhe a dentadura de um croissant de mortadela.
Com o rosto e a voz devidamente protegidos, a assistente social T., responsável pelo Flor de Abril, disse a uma equipa de reportagem da TVI qualquer coisa indecifrável. O ministro da Saúde declinou comentar o caso, mas fontes mal identificadas garantiram ao Expresso que as deficiências registadas em lares de inspiração progressista vêm sendo acompanhadas com preocupação pela tutela.
Recordemos que, ainda há poucas semanas, a instituição O Repouso do Camarada, na Marinha Grande, foi cenário de três mortes repentinas, ocorridas durante uma sessão de leitura contínua da poesia de Ary dos Santos, por ocasião dos vinte anos do desaparecimento desse notável vulto, antigo beneficiário do Apoio Domiciliário Integrado d'O Repouso. Na altura, atribuiu-se a tragédia à comoção, mas colegas dos falecidos fizeram constar que ouviram teses bem mais preocupantes serem sussurradas. Porém, sendo surdos, não as perceberam.

quinta-feira, fevereiro 12, 2004

O Bill Gates também tem vergonha na cara

Escreve o Francisco:

MICROSOFT COM MEDO DA ESTRELA DE DAVID. A Microsoft
resolveu fazer um update no Bookshelf Symbol, uma
tabela de símbolos gráficos que podem ser usados como
fonte: «Critical Update for Windows (KB833407). This
item updates the Bookshelf Symbol 7 font included in
some Microsoft products. The font has been found to
contain unacceptable symbols.» Recebo a novidade (uso
Mac) através do Jaquinzinhos que dá conta dessa
reforma no Bookshelf 7, de onde é retirada, por
exemplo, a cruz suástica. Mas, ao mesmo tempo, a
Microsoft inclui a estrela de David entre os
«unacceptable symbols» - que desaparece do catálogo.
Escuso de comentar ou de juntar adjectivos. Protestos
podem ser enviados para o endereço
clientes@microsoft.com da MicrosoftPortugal, e para o
Costumer Support do site da Microsoft.
Esta palermice billgateana não acontece nos Macintosh.

Gosto muito de te ver, Leonzinho

Este jovem em perpétua indignação acusa-me de não ter vergonha na cara. Concedo que me resta pouca, o que nem será novidade. Engraçado é haver quem, presumivelmente, a tenha e se diga membro do ‘Bloco’.

quarta-feira, fevereiro 11, 2004

Epifania IV - A dúvida

Alto! Quando, através da lógica e do Real Madrid, o maradona estava quase a convencer-me de que a minha recente conversão é uma cretinice, lembrei-me do seguinte: há para aí um ano, um sorridente Miguel Portas garantiu na Sic Notícias - eu vi com estes olhos que a terra há-de rejeitar, por excesso de miopia - que não tinha dúvidas de que as armas de destruição maciça apareceriam cedo ou tarde, sugerindo que na melhor/pior das hipóteses os EUA as plantariam de qualquer forma. Por mim, ponho a epifania de molho, suspendo desde já eventuais considerandos e não volto a falar do assunto até ouvir o Miguel Portas a respeito. Ele sabe coisas.

Epifania III - Adenda

E só não anulo a minha inscrição na União dos Blogues Livres porque nunca fui convidado a integrá-la.

Epifania II - Demonstração e prova

O post anterior levantou dúvidas? Reparem: hoje, no telejornal da RTP1, uma breve reportagem sobre o Médio Oriente mereceu, em off, o texto ‘Israel levou novamente o terror (sic) às áreas ocupadas (sic)’. Regra geral, a minha vontade seria fixar o nome do jornalista (sic) que escreveu a peça e oferecer-lhe 378 passeios de autocarro em Telavive. Agora, dada a minha mudança, vou indicar o rapaz para o Pulitzer ou, no mínimo, um Bordalo. E recuso-me a subscrever todos os (sic) acima.

Epifania

Notoriamente, tenho escrito pouco. Ando abaladíssimo com a questão das armas no Iraque. Afinal, parece que as ditas não existiam, como de resto Saddam bem se fartou de explicar. Eu não acreditei em Saddam, acreditei em Bush; eu não percebi de que lado estava o Mal. Agora percebo. A todos os meus leitores, peço imensa desculpa. E, com a voz macerada pela vergonha, proclamo baixinho: libertem Saddam; fora o imperialismo Ianque. A partir de hoje, estais perante um novo homem.

segunda-feira, fevereiro 09, 2004

Be afraid...

No dia 30 de Janeiro, VPV escreveu que o senador John Kerry ‘saiu ontem de um filme de terror’. Ontem, 8 de Fevereiro, Luís Delgado confirmou que o dito Kerry é um rapaz ‘saído de um filme de terror’. Menos preciso que VPV (nos dois sentidos), Delgado não referiu datas, mas, face a tantos testemunhos, podemos assegurar que o tal filme de terror existe e que o respectivo elenco foi realmente despedido em 29 de Janeiro.

Haja decência

Não gostava do último modelo do «Flashback» como não gosto da «Quadratura do Círculo»: dos quatro vértices, apenas dois não enervam - e um deles, sendo moderador, não conta. Ou seja, salva-se Pacheco Pereira, cujas opiniões, de resto, podem ser encontradas em inúmeros lugares sem as interrupções descabidas do Doce Inquisidor ou de António Lobo Xanax.
E, talvez por contágio, mesmo JPP chega a perder o norte: este fim-de-semana, por exemplo, revelou a um país incrédulo que, para lá de Badajoz, ninguém sequer vagamente considera a candidatura do dr. Vitorino à presidência da Comissão Europeia. Claro que é verdade, mas, enquanto o pau vai e vem, há um povo que se inebria ante a eventualidade de um homem que não conhecem ocupar um cargo que mal sabem que existe ou para que serve. Os nossos média, conscienciosos, têm alimentado esta ilusão, a título de antídoto para a popular depressão nacional. Ao desmontar a profilática farsa, JPP acrescenta nova cavadela ao fundo poço em que os portugueses se encontram. Havia necessidade? Depois disto, e antes que nos desatemos a suicidar em massa feito lemingues, só falta o dr. Carrilho desmentir a paternidade de uma criança que anda aí pelas manchetes, e que tanta alegria nos trouxe.

União Nacional

Pela voz do informadíssimo Jorge Coelho, ficámos a saber que, depois de Ferro Rodrigues, o PS tem quatro líderes em potência: António Costa, José Sócrates, Tozé Seguro e o próprio dr. Coelho. Não sei se é caso inédito, mas, em qualquer democracia de que nos possamos lembrar, trata-se certamente de uma das raras ocasiões em que o maior partido da oposição abdica voluntária e conscientemente da possibilidade de formar governo nos anos mais próximos. Se isto não é um pacto de regime, o que é um pacto de regime?

quinta-feira, fevereiro 05, 2004

Prenúncio do Norte

Estranhas vibrações envolvem o Aviz: há pouquíssimos dias, o Francisco dedicou uma data de posts à Hilda Hilst; logo de seguida, a senhora morreu. Fui conferir os posts posteriores, e visto o Paulo Francis ali se declarar ‘tecnicamente morto’ (e, entretanto, factualmente também), se eu fosse o Lucílio Batista (?) e o Jorge Marmelo andava com muito cuidadinho.

'Boys' of Melody

Além de um imaculado bom gosto nos filmes, nas ideologias e nos blogues que prefere, também na música o Luciano não falha. Hidden Cameras? Uns geniais rapazes canadianos, tão bichas que fazem o sr. Merritt parecer-se com Clint Eastwood e que têm uma peculiar obsessão pela urina do(s) parceiro(s)? Pois asseguro-lhe, caro Espectador, que o cd de estreia dos moços poucas vezes tem largado a aparelhagem do meu carro nos meses mais recentes.
Só um pormenor: no meu exemplar, o disco chama-se «The Smell of Our Own» - acho que «Music is My Boyfriend» é o nome do site da banda.
Só outro pormenor: há um disco anterior, espécie de mini-álbum, intitulado «Ecce Homo» (a conotação não é a habitual), que tem uma produção miserável, tipo Velvet, e que é uma delícia (a conotação é a habitual).

Breast exam

Ao contrário da Charlotte, e sobretudo porque não vi o Super Bowl, eu fui uma das 140 milhões de pessoas ofendidas pela exibição da mama da Janet Jackson. Felizmente, a cantora gravou um pedido de desculpas; infelizmente, surgiu nele vestida até ao pescoço.

terça-feira, fevereiro 03, 2004

O velho Francisco

Como agora se diz, é assim: gosto que me enrosco dos discos antigos do Chico Buarque; não gostei nada do primeiro romance, «Estorvo» e nem peguei no segundo, «Benjamim». Se quis ler «Budapeste» com urgência foi porque regressara de Budapeste há dias (não, o Abrupto é mais a Leste) e procurava afinidades geográficas. Só que, em «Budapeste», não há geografia (a não ser a interior e blá, blá, blá), mas apenas - e aqui vai uma séria candidata à frase mais palerma deste blogue - um homem que abraça uma língua estranha para se esquecer de si, com jogo de espelhos e laivos de Borges à mistura. Não importa. Importa não se deixarem enganar: apesar de Saramago garantir que o livro é bom, o livro é bom.

segunda-feira, fevereiro 02, 2004

Até amanhã, camaradas. Se Deus quiser.

Lê-se aqui que «o PC promete dar prioridade à saúde». E quem os pode censurar? A julgar pela média etária da malta, a questão não é de estratégia: é de instinto.

Para ti, Fehér

Bonito ver que, durante todo o fim de semana, o futebol português continuou a ser repensado. Gostei particularmente do repensamento explícito nas declarações de José Mourinho e no diagnóstico clínico do guarda-redes do Boavista.