quarta-feira, agosto 10, 2005

Intolerância

O Miguel Noronha e o Luciano Amaral lançaram-se numa curta polémica acerca da autoria da expressão “mensalão do Saddam”. Por motivos que ignoro, fui metido no meio, o que me leva a tentar esclarecer dois ou três pontos. Primeiro, a piada, infelizmente, não é minha, o que descarta qualquer sombra de plágio e subsequente processo judicial. Segundo, e por mais que me expliquem, não consigo perceber a aversão da Nova Direita ao bacalhau com arroz, assunto a que invariavelmente recorre. Bem sei que as batatas vieram da América e o arroz, excepto pela Condoleezza, veio da China. Mas não acho que a gastronomia deva obediência a uma rigidez ideológica inadequada a liberais como Vossas Excelências. O próprio Hayeck, antes de vender o “c” por dívidas ao fisco, chegou a usar o arroz de modo considerado extravagante para o seu tempo. Nas suas memórias, Abba Lerner (não confundir com Abba Eban, mas podemos confundi-lo com aquele grupo sueco) conta que, já em Londres, Hayeck não dispensava um pratinho de arroz branco como acompanhamento extra do arroz de marisco. E toda a gente sabe que o Road to Serfdom, na origem, era destinado à extinta revista Easy Recipes, enquanto manifesto de repúdio pelo predomínio dos tubérculos na culinária anterior à II Guerra. O mestre ensinou-nos a liberdade: respeitemo-lo.