sábado, outubro 29, 2005

Dois anos


Por preguiça, economia, falta de consideração, desleixo, ingratidão, incúria, escassez de tempo, definição de prioridades ou opção pessoal, não costumo congratular blogues por aniversários. O Rua da Judiaria não é um blogue. Obrigado, Nuno. (E com isto lembrei-me da promessa feita há meses a propósito dos Silver Jews: o último álbum, que saiu entretanto, é bom; o anterior era muito melhor. Depois falamos. Um abraço.)

quinta-feira, outubro 27, 2005

É que o nosso MNE tem a surpresa fácil

Aquele macaquinho que parece mandar no Irão manifestou o desejo de ver Israel “riscado do mapa”. Estas declarações - realizadas, note-se, durante o congresso World Without Zionism (aliás rico em iniciativas paralelas) - foram consideradas pelo nosso exemplar MNE “surpreendentes e graves”.

quinta-feira, outubro 20, 2005

Grandes Momentos da Língua Portuguesa (III)

Mas Anabela acabou por me chamar do lado de fora na direcção da clarabóia. Lembro-me. Não abri. Estava fascinada pela diferença e não abri. Ao mesmo tempo vencida e fascinada. Tão diferentes não podíamos apenas ser distintas pelo Reso do sangue nem pela vivência da infância. A tal tipologia que separava as pessoas segundo um outro sexo que nada tinha a ver com o pube, não era afinal retórica ao pequeno-almoço. Embora ela atacasse a porta da madressilva com os punhos não abri. Depois um papel raspou a soleira e um envelope entrou. Até nesse afecto feito de utilidade Anabela era diferente. Tinha um táxi a trabalhar junto à porta, vestia sem dúvida outro tailleur, com outro berloque de oiro, vindo ali cumprir a maçada. Estava cumprida.

(Lídia Jorge, Notícia da Cidade Silvestre)

Always look on the bright side of life

sexta-feira, outubro 14, 2005

E o da Física, ninguém discute?

Quinze confirmações da tese segundo a qual o Nobel da Literatura é quase tão importante quanto o Campeonato Nacional de Corta-Mato:

Franz Kafka
Mark Twain
Vladimir Nabokov
Albert Cohen
Jorge Luis Borges
Dorothy Parker
Philip Roth
Evelyn Waugh
George Orwell
Bruno Schulz
Philip Larkin
Truman Capote
Tom Wolfe
Joseph Roth
Joseph Conrad

E mais quinze:

Harold Pinter
Elfriede Jelinek
José Saramago
Dario Fo
Toni Morrison
Naguib Mahfouz
Wole Soyinka
William Golding
Heinrich Böll
Pablo Neruda
Jean-Paul Sartre
John Steinbeck
Hermann Hesse
Bertrand Russell
Anatole France

E agora quinze contributos para uma ligeira hesitação:

Imre Kertész
V.S. Naipaul
Seamus Heaney
Isaac Bashevis Singer
Saul Bellow
Alexandr Solzhenitsyn
Giorgos Seferis
Albert Camus
William Faulkner
Eugene O'Neill
Thomas Mann
Henri Bergson
George Bernard Shaw
Thomas Mann
William Butler Yeats

E finalmente quinze só para confundir:

Gao Xingjian
Odysseus Elytis
Eyvind Johnson
Yasunari Kawabata
Juan Ramón Jiménez
Halldór Laxness
Pär Lagerkvist
Frans Eemil Sillanpää
Erik Axel Karlfeldt
Sigrid Undset
Grazia Deledda
Knut Hamsun
Karl Gjellerup
Giosuè Carducci
Bjørnstjerne Bjørnson

terça-feira, outubro 11, 2005

Grandes Momentos da Língua Portuguesa (II)



As nádegas

Porque das nádegas
a curva
sempre oferece
a fenda
o rio
o fundo do buraco

Para esconso
uso do corpo
nunca o fraco
poder do corpo em torno desse vaso

Ambíguo modo
de ser usado
e visto

De todo o corpo
aquele
menos dado

preso que está já
do próprio vicio
e mais não é que o limiar de um acto


(Maria Teresa Horta)

segunda-feira, outubro 10, 2005

Assim poupa trabalho aos tribunais

Ontem, houve candidatos indiciados, arguidos e, provavelmente, um ou outro inimputável. E em Vila Viçosa ganhou o Manuel Condenado.

sábado, outubro 08, 2005

The day the earth stood still

Eu estive quase, quase a reflectir. Mas depois reflecti melhor.

quinta-feira, outubro 06, 2005

A bola é redonda

A verdade é que me custa muito não dar uma opinião, mesmo que seja sobre um assunto que não me interessa nada. Então, aqui vai: acho que o Peseiro deve ir embora. Ou não.

Se calhar ainda lá estão

Foram hoje publicadas diversas sondagens sobre as eleições no Porto. Como dizia Narciso Miranda (não sei porquê, acho que o homem nunca realizou uma intervenção pública sem empregar esta frase totalmente desprovida de sentido), as sondagens valem o que valem. Prefiro, por isso, fiar-me numa sondagem privada, sem ficha técnica, que levei a cabo um destes dias enquanto conversava com duas destacadas figuras do PS do Porto. A certa altura do diálogo, e por mera cortesia, sugeri a possibilidade de Francisco Assis vencer no domingo. De imediato, os meus interlocutores, até aí circunspectos, mostraram-me o lado mais bonito da solidariedade socialista. “O Assis?” “O Assis, ganhar?” E desataram a rir com vontade. Meia hora decorrida, e como continuassem a rir, despedi-me e fui à minha vida.

Por acaso é uma pena

Agorinha mesmo, no debate da Tsf, o candidato do Bloco em Felgueiras queixava-se da desigualdade de condições na campanha. Prova cabal? "Os nossos outdoors são mais pequenos."

terça-feira, outubro 04, 2005

Quotidiano celeste

Meio país deslocou-se a Argozelo para observar o eclipse. Fizeram-se milhares de fotografias e filmes, preencheram-se umas páginas dos jornais e uns minutos dos noticiários. Óptimo, mas já muito visto. Aqui no Homem a Dias, revela-se um fenómeno extraordinário, se calhar inédito e com certeza irrepetível na imprensa dos próximos cento e tal anos: Argozelo, ao fundo, visto da minha casa, sem eclipse e aparentemente sem mirones a olhar para o céu, aliás de um azul lindo.