sábado, janeiro 15, 2005

Ao que eles chegaram

Já vi dezenas de espectáculos no Coliseu do Porto. Com a possível excepção dos Pixies, em 1991, nunca tinha assistido à histeria (inteiramente justificada) com que estes senhores foram recebidos ontem. E, sem excepção para os Pixies, nunca tinha jantado com os artistas depois da actuação. A bem dizer, os Pixies convidaram-me. Mas eu não fui.

quinta-feira, janeiro 13, 2005

Posta restante: ainda os três minutos

Escreveu-me a Cláudia Monteiro:

Fiquei incendiada (no sentido raivoso) quando estava no aeroporto e a senhora do free shop me mandou calar porque estavam a respeitar os três minutos de silêncio para as vítimas do tsunami (eu não sabia, tinha acabado de chegar de férias e estava portanto longe da ditadura de solidariedade europeia). Calei-me por boa educação, mas fiquei incomodada com este desígnio institucional que decide quem deve calar-se e por que causas, e a que horas do dia. E senti-me bastante infantil ao embarcar numa revoltazinha que consistiu em carregar nos sprays das amostras de perfume... Será que a moral e os bons costumes me perdoarão?

quarta-feira, janeiro 12, 2005

Rise and fall

Uma pessoa pensa que é importante quando recebe telefonemas de colunistas da Folha de S. Paulo. Uma peçoa pessebe que é cemi-analfabeta quando o telefonema alerta para um erro gramatical no post anterior.

Chi-Square*

O Pedro Magalhães confessa “desconforto ideológico” perante este humilde blogue. Eu já calculava: não se defende os Magnetic Fields e os Abba em vão. Em compensação, não sinto desconforto nenhum face ao blogue do Pedro Magalhães (desde que não contenha elogios ao Boaventura da lenda). O Margens de Erro promete ser um raro e utilíssimo instrumento de análise das sondagens políticas, as que por aí andam e as muitas que hão-de vir. Embora, mais uma vez, a relação prometa desequilíbrios: é que eu sou um maluquinho da estatística; ele é um conhecedor.

*Título relativamente obscuro, que visa sugerir, ao de leve, o à-vontade técnico do autor.

segunda-feira, janeiro 10, 2005

A Folha do João

S(O)S

Só hoje é que dei por ela, graças a isto e a isto. Um grupo de personalidades realizou uma defesa pública de Boaventura Sousa Santos. Boaventura S.S., pseudónimo de Boaventura de Sousa (ou será o inverso?), bem merece ser defendido.
Primeiro, porque há uns sujeitos em Coimbra B que lhe querem bater, desde que embirraram com os óculos do homem.
Segundo, porque tem um nome ridículo e um psudónimo idem.
Terceiro, porque escreve péssima poesia e prosa atroz.
Quarto, porque cruzou interdisciplinarmente a sociologia do conhecimento, a sociologia do direito e a sociologia política sem pedir autorização a nenhuma das três.
Quinto, porque usa a palavra “interdisciplinarmente”.
Sexto, porque a sua obra académica inclui referências à imaginária favela de Pasárgada e à cooperativa do Barcouço, entre outros topónimos mais ou menos imaginários mas realmente patetas.
Sétimo, porque a mão de Alice levou-o a atravessar o espelho e ele ainda não descobriu o caminho de volta.
Oitavo, porque das “personalidades” envolvidas a metade conhecida mete medo, e a metade obscura sugere cautela.

Ainda assim, junto a minha voz à de Ana Gabriela Macedo, Ana Luísa Amaral, Armando Silva Carvalho, Bernardo Pinto de Almeida, Celina Manita, Diana Andringa, Fernanda Gil Costa, Francisco Louçã, Gabriela Moita, Gastão Cruz, Helder Macedo, Helena Carvalhão Buescu, Helga Moreira, Isabel Allegro de Magalhães, Isabel Pires de Lima, João Ferreira Duarte, João Teixeira Lopes, Manuel Gusmão, Maria Teresa Horta, Maria Velho da Costa, Miguel Vale de Almeida, Paula Morão, Rosa Maria Martelo e Teolinda Gersão e declaro-me pronto para estabelecer um diálogo crítico saudável com a escrita e o pensamento de Sousa Santos. Isto, claro, logo que o próprio aprenda a primeira e inicie o segundo.

Eleições na "Palestina"

Gosto muito de Abba, mas desconfio muitíssimo do respectivo plural.

quinta-feira, janeiro 06, 2005

Entrar mudo, sair abençoado

Gozem-me o que quiserem, mas continuo a achar que os minutos de silêncio são de imensa utilidade para os destinatários. Um minuto, é jeitoso. Dois minutos, é de homem. Três minutos, então, são coisa heróica, capaz de regenerar os males da Terra enquanto o dr. Sampaio ainda inicia os 3/17 avos de um discurso tamanho médio.
Ontem, por acaso, guardei 180 segundos valentes para ajudar as vítimas do sismo no Sudeste Asiático. E nem custou nada. Às onze horas, encontrava-me em sentido na fila de uma repartição pública. Como ninguém falou comigo e eu não falei com ninguém, lá está, três minutos bem contados. Aliás, tenho a impressão de que foram uns seis ou sete, mas não quero armar-me em santo.
Um amigo a quem narrei o feito disse que assim não vale. Trata-se de inveja, claro. O que importa é a minha consciência, e essa, tal como os meus pés ontem, está cansada. Cansada de saber que guardei os três minutos, sim senhor. Guardei-os tão bem que já nem sei onde é que eles andam.

PS: Se preciso fosse, voltei a comprovar a generosidade do nosso povo. Na repartição pública, todos atravessaram os três minutos em rigoroso silêncio. Todos menos, naturalmente, os felizardos que já estavam a ser atendidos e as biltres das funcionárias que os atendiam. E daquela senhora que, atrás de mim, reclamava sozinha que o tribunal não a obrigara a declarar num impresso qualquer que a filha era tutelada pela mãe e agora tinha passado o prazo para ela preencher outro impresso qualquer e ela estava a ver a vida andar para trás porque cheirava-lhe a multa e ainda por cima já eram onze horas e a fila nunca mais avançava, rais parta isto.

segunda-feira, janeiro 03, 2005

Delito menor

(Para o Luciano, o Ricardo e o Pedro Mexia)

Confesso nunca ter lido nada do Zé Balde, nem sequer esse Austerlitz. Será excelente, mas há tanta gente a lê-lo por mim que é capaz de não valer a pena. E depois não acredito em leituras obrigatórias. Um imperativo sem sanção não vai longe. Está nos livros.

Pelo menos a desgraça na Ásia serviu para:

a) Fingir que se descobriu que Portugal não está preparado para uma coisa assim;

b) Culpar o Santana;

c) Preencher centenas de horas televisivas com o “horror” (exprimir sensibilidade ao proclamar o “horror”);

d) Criticar os EUA por serem responsáveis pelo segundo maior contributo às vítimas;

e) Mostrar um plano do porta-aviões Abraham Lincoln e referir, em off, que “por uma vez” o dito “está envolvido numa acção pacífica”;

f) Entrevistar turistas nacionais que se queixam da “falta de ajuda” da nossa diplomacia;

g) Culpar o Santana;

h) Atacar a globalização, que mantém dois terços do mundo em estrepitosa miséria;

i) Não se referir os tirânicos governos da estrepitosa miséria, que evitaram eventuais alertas para não espantarem o turismo;

j) Não se questionar as opções turísticas de inúmeros ocidentais, que financiam déspotas e bronzeiam a barriga entre populações famintas e semi-escravizadas;

k) Sugerir que as populações são famintas e semi-escravizadas por causa dos EUA, dê por onde der;

l) Ouvir repórteres repetirem a palavra “tsunami” até que as línguas sangrassem, e sempre com um prazer inaugural;

m) Exibir o que faz aquele tipo da AMI quando não se encontra a babar ódio sobre Israel;

n) Insuflar de esperança os hoteleiros algarvios;

o) Sentirmo-nos genuína, visceral e momentaneamente solidários;

p) Culpar o Santana.

Do céu caiu um elefante

Bad Santa, filme bom.